Quem já amou sabe... Quando acaba machuca, dói, desnorteia, enlouquece. Deixa vazio que não se preenche. Ferida que não cicatriza, sofrimento que não esvai. Você terminou. Ela terminou. O amor não... Continua vivo, pulsando, batendo como um coração apaixonado que certamente vai ferir cada um com a mesma intensidade que um dia alegrou. É assim. O fim e o início de outro tempo: Recomeço. Obrigação de apagar, esquecer, deixar pra lá. Logo agora que tudo parecia perfeito e que você estava irradiando felicidade. Logo agora que você achou ter encontrado a pessoa certa para envelhecer ao seu lado. Logo agora que você se permitiu e ousou fazer promessas, planos e juras de um futuro perfeito. Justo agora que você deixou de temer o amor e se entregou, ele se foi... Desconstruindo, dilapidando, desmontando cena por cena, beijo por beijo e deixando saudade... De cheiros, versos, olhares e momentos. Desfazendo... Trocando a doçura apaixonante por uma sensação amarga, fria e um tanto deprê.
Recomeçar não é fácil. Esquecer um amor, menos ainda... No primeiro momento você vai pensar que nunca mais vai gostar tanto de alguém, porque realmente o que você sente te engole, é quase maior do que você mesmo. Depois vai assumir uma postura defensiva e se fechar como quem tomou birra de amores que vão embora. Vai ser frio, individualista e vai usar pessoas quase sempre as comparando com quem você ama. Vai sair muito, beber e tentar abstrair um pouco, mas não vai ver tanta graça na noite nem nas pessoas. É fato. Tudo se torna pequeno, vazio e sem sabor para quem perdeu um amor. Depois, com o passar do tempo, entre um e outro envolvimento breve, vai se cansar do sofrimento, da angústia e principalmente da dor que dói e sufoca sem parar de doer. Vai se cansar e talvez achar uma pessoa mais ou menos legal, mais ou menos do jeito que você gosta e então sentir uma preguiça enorme de começar tudo de novo... Se apresentar pra família, falar de você observando uma nítida análise das pessoas que te ouvem. O pai acha que você tem tatuagens demais e a mãe pensa que você é um playboy sem nada pra fazer senão comer a filha dela. Análises. Julgamentos. Pré-conceitos... Coisas que enchem o saco. Se não bastasse, você ainda vai ter que aceitar os defeitos todos de novo e conciliar de uma maneira saudável sua vida com a vida de quem você acha que gosta. Acha, porque gostar é uma coisa, amar é outra coisa muito diferente. E o mais comum nessa fase de ter-que-esquecer-alguém, é inventar sentimentos e amores numa tentativa inútil de calçar o buraco com a ilusão de estar amando de novo. É essa! É essa! Agora é! Não, essa eu tenho certeza! Agora é! Não, não é nenhuma delas. Ninguém aprende a gostar de ninguém. Simplesmente gosta, assim, naturalmente. Então a vida segue, tem que seguir. Você sozinho e meio perdido segue a vida, tem que seguir.
Na base da raça a gente tenta esquecer, aliviar o peito, mas quando se vive uma relação de amor intenso, um fato simples como um espirro diferente te faz lembrar de quem você ama. Espirros daqui, trilhas sonoras dali e casais apaixonados ao seu redor ganham uma certa evidência. O mundo parece conspirar a favor do seu sofrimento, da ausência, da saudade interminável que deságua noite afora. Amar é assim. Vicia mesmo, não adianta fazer de conta, fingir que não é com você. E sofrer faz parte, é o preço, o risco que a gente assume quando se apaixona por alguém. Ah sim! Devia existir uma cláusula que garantisse a eternidade do amor e que nos desse certeza de que tudo que fora prometido será cumprido a risca, palavra por palavra. Mas a realidade é outra. Não existe cláusula nenhuma, o amor não é um contrato. E nós, não somos de ninguém senão de nós mesmos. A gente sonha, a gente inventa, a gente vê filme demais... Mas amor de verdade e para sempre a gente só conhece mesmo ao fim da vida, depois de amar dia após dia, luta atrás de luta. Mesmo na doença, nos problemas, na falta de grana e nas peças que a vida volta e meia nos prega. Amor assim, eu conheço poucos, são raros demais nos dias de hoje. Mas existem e isso é um bom sinal. Nos dão esperança de que manhãs de sol e dias melhores virão para quem acredita no amor.
ps: Para a Tatiana, leitora a qual eu dedico esse texto: Entendo perfeitamente o que você está sentindo. Já senti na pele, no peito e na alma o quanto dói esse processo. Mas como disse, a vida segue e nós seguimos a vida. Eu não tenho uma receita de bolo para você esquecer seu amor. Ninguém tem. Mas acredito que amor próprio, uma generosa dose de amor próprio, é um bom começo.
Fiquem com Deus e se cuidem...
Beijos,
Deco.
Por Deco 12:28:51
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