quinta-feira, março 13, 2008

A VOLTA DE QUEM NÃO FOI


“Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou nãoresponde quando lhe indagam sobre algo que sabe. Morre lentamente…" (Pablo Neruda)

A sua vida pode acabar daqui a um segundo. Por isso é tão importante que você, apesar de tudo, de qualquer situação, perda ou problema, lute todos os dias pela sua felicidade. Tudo bem, eu sei, minha afirmação é beeeeeem óbvia! Qualquer pessoa normal tem perfeita noção da fragilidade da vida e dos riscos, dos inúmeros riscos que corremos em nossos cotidianos malucos e alucinados. Qualquer pessoa normal, mesmo que não seja amante de nada radical, mesmo que não se aventure ou que não curta adrenalina, sabe que quem vive também pode, a qualquer momento, morrer. Mas saber é uma coisa, viver é outra muito diferente.

Depois de um grave acidente que me deixou em coma por 10 dias, posso dizer que a minha noção desse risco se aguçou muito. Posso também dizer, aliás, garantir, que é mesmo num estalo de dedo que a gente fica ou vai embora daqui. Eu poderia estar com minha perna esquerda amputada. Eu poderia ter ficado paraplégico. Eu poderia ter tido traumatismo craniano. Enfim, eu poderia ter uma infinidade incontável de seqüelas ou até mesmo, não estar mais aqui neste momento escrevendo. Mas para minha sorte, para minha felicidade e daqueles aos quais significo alguma coisa, alguém lá em cima, lá no alto do céu em meio a tantas orações, decidiu que não era minha hora. Apesar da cirurgia, de todas as dores, traumas e do afastamento completo da minha rotina, eu literalmente nasci de novo.

Aqui, agora, aos 53 dias da minha “nova vida”, digo que você descobre um mundo totalmente novo depois que passa perto de ir embora. As pessoas, as coisas, você mesmo. Tudo soa de um jeito diferente. Sentimentos. Essências. Conceitos. Idéias. Valores. Ideais. Experiências. Tudo se renova. Tudo se transforma. Então você se questiona pra caramba... Fica se perguntando um milhão de coisas... Reavaliando dia por dia, ano por ano, momento por momento de praticamente tudo que você já viveu. Aonde você acertou... Aonde você errou... O que realmente valeu à pena? Quem valeu realmente à pena? O que foram seus 30 anos de vida e o que será daqui para frente?

Difícil responder assim, no tapa. Mas é possível dizer que me orgulho muito da família que eu tenho. O carinho, a preocupação, a dedicação absoluta e o amor incondicional que eles sentem por mim é a coisa mais bonita que existe. Que sou grato (uma a uma) a todas as pessoas que já passaram pela minha vida - e a todas aquelas outras que nela ainda estão. Que acredito mesmo no amor, seja difícil, complicado, brega, doído ou o que for. Que sinto que a vida foi feita para viver a dois - e que se casar pode ficar fora moda o quanto o mundo quiser e ainda sim seguirei sonhando com isso todas as noites. Que o homem não é nada nem ninguém sem o trabalho. Que por mais que o mal persista, ser do bem é sempre a melhor opção, o melhor caminho, o melhor destino. Que o limite de cada coisa é algo a ser respeitado, assim como o corpo, a vida, a natureza, o coração e as outras pessoas. Que o dinheiro é menos, bem menos importante do que parece ser. E que tudo vem no tempo certo para cada um, mas é preciso fé, sabedoria e paciência.

Por fim, de carona com a pérola do Neruda que abre este texto, deixo... Não morram lentamente! Valorizem a vida, a família, os amigos e claro, os amores, os danados dos amores também. A vida pode ter lá seus precipícios, suas dificuldades, seus desafios e seus problemas, mas é boa e infinitamente bela se soubermos levá-la. Se estressem menos. Se desgastem menos. Reclamem menos. Trabalhem menos. Se irritem menos. Não vale a pena! O que se leva daqui é mesmo, sem tirar nem por, a vida que se leva.

Fiquem com Deus, esse papai do céu é o cara.
Beijos,
Deco.