sexta-feira, dezembro 22, 2006

O AMANHÃ NÃO SE SABE



Quem freqüenta este espaço há algum tempo conhece bem minha ojeriza por datas comerciais, que obviamente, mega-inclui o Natal. Acho essa época apelativa, um tanto capitalista e pouco, muito pouco sincera. Se você gosta, se você conta os dias, se você acha lindo, tudo bem. Cada um é cada um, não é assim que funciona a democracia? Então vai lá encontrar a família, brindar, compartilhar a mesa e comemorar, mas faça-me um favor, não sorria amarelo pra ninguém. Não sorria para agradar, para parecer feliz, para fazer de conta. Esse sorriso falso e coletivo foi uma das coisas que mais me afastou da noite do bom velhinho. Além disso, não gosto da obrigação de ter que ir. Ir e sorrir. Ir e fingir. Ir e se fazer de feliz, de querido, de bonzinho só para agradar e manter o clima de harmonia familiar. Vocês sabem... Fachadas não são mesmo o meu forte, tão menos ter que abraçar e felicitar pessoas que não participam da minha vida, que não me curtem, que não torcem por mim, enfim, pessoas das quais eu não faço a mínima questão. Talvez por isso e também pela desigualdade tatuada, pelos velhos abandonados nos asilos, pelas muitas crianças, adolescentes e jovens sem a menor oportunidade, pelos pais de família desempregados, que se frustram por não conseguir oferecer às suas famílias às mínimas condições de vida e por todos, sem distinção, que nada têm nessa noite de fartura e desperdício em nossas mesas, vejo o Natal, sem a menor culpa, como um dia qualquer.

E se o Natal chega de um lado, meu telefone toca (pela centésima vez em dois dias) de outro... Adivinhem quem é? É mais uma pessoa querendo saber qual é a boa do reveillon. É mais uma pessoa querendo ir para os mesmos lugares... Rio, Salvador, Escarpas, Maresias, Floripa... É mais uma pessoa querendo encontrar as mesmas pessoas de sempre, nos mesmos lugares de sempre, com a mesma hipocrisia de sempre. É mais uma pessoa perdida de si, fadada por essa sociedade estúpida, a caçar um reveillon de cinema... Na praia, na ilha da fantasia, com pulseirinha colorida no pulso, muita champagne importada e gente que não sorri. É mais uma pessoa, apenas mais uma pessoa cavando mais uma oportunidade vazia para se divertir por divertir, beijar por beijar e se incluir, se igualar, se repetir na cena que tantas e tantas vezes eu já assisti.

Para todos os que me ligaram e para os que ainda vão ligar, deixo a resposta: Vou passar em casa, isso mesmo, não se assuste nem me chame de louco. Vou passar em casa, com meia dúzia de pessoas queridas, tomando minha vodka favorita. Vou passar na tranqüila, na paz e sem filas ou gente suada me esbarrando. Vou passar sem brigas, sem trânsito e sem ter que assistir o povo pastilhado transando no banheiro. Vou passar desligado, completamente livre e desalienado de qualquer protocolo. Não estou preocupado com qual lugar estará mais concorrido ou mais cheio ou mais fino... Perdi o engajo para ser descolado e o jogo de cintura e a paciência para me envolver em coisas que não fazem minha cabeça. Perdi e ganhei. A certeza de ser feliz do meu jeito, a certeza de me divertir sem precisar me sujeitar a situações irritantes. Sem precisar interagir com pessoas que não tem absolutamente nada a ver comigo. Sem precisar ver o dia nascer em meio a máscaras se desfigurando e concluir ao final de tudo, depois de juras e juros, que meu ano começou sem graça, sem sentimento e sem valor.

Então, entre um natal comercial e a verdadeira maratona por um reveillon mais vip, fico com meu desejo, que é bem simples... Sejamos mais, ora! Mais poesia, mais emoção, mais humanos, mais coração. Mais trabalhadores, mais fortes, mais competentes, mais honestos... Mais sábios, mais inteligentes, mais doces, mais conscientes... Mais amáveis, mais compreensivos, mais amigos... Mais generosos, mais sinceros, mais sensíveis... Mais verdadeiros, mais companheiros, mais felizes... Mais amor.

Fiquem com a paz e a luz de Deus e se cuidem.
Ano que vem tem mais...
Beijos mil,
Deco.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

GULA PERFEITA



Dizem que amar é o bastante. Incondicionalmente. Irradiantemente. Incansavelmente. Pode ser... Aliás, pode ser tudo, suficientemente tudo, se você levar uma vida ou ao menos se dispor a levar uma vida por conta da emoção. Sim, pode ser, se você for um adolescente despido de razão, se puder agir, pensar e viver exclusivamente para o amor. Do contrário, com muito pesar e as devidas desculpas, devo dizer: Amar não é o bastante.

Na real, antes de tudo, não é o bastante porque é impossível viver de amor. Amor não paga as contas, não compra comida, roupas, apartamento nem carro novo. Não é o bastante porque você não quer morar numa cabana no meio do nada e nem vender coco na praia para sobreviver. Isso é muito bonito, é muito emotivo e romântico, mas é pura utopia e utopias nessa altura da vida, passam longe da sua cabeça. Não é o bastante a partir do momento que você tem amigos e naturalmente, sente a falta deles. Não é o bastante porque mesmo amando você continua precisando de liberdade e de um tempo seu, seja para saltar de pára-quedas, jogar bola, baralho, sinuca, para beber, para não fazer nada ou para fazer qualquer outra coisa que te desligue do cotidiano por algumas horas. Não é o bastante porque você, como todo ser humano, tem extrema facilidade para se enjoar das coisas e na medida em que se fecha em uma única vertente, enjoar é semi-automático, mera questão de tempo.

Não é o bastante porque você quer mais... Você quer se casar com uma pessoa bacana, ter um casal de filhos pulando na sua cama pela manhã, ver sua empresa produzindo alto e ter aquele lugar agradável pra morar. É um sonho antigo, um sonho que você persegue, um sonho que você não vai abandonar. Um sonho que depende de você e de muito trabalho, dedicação e competência. Por isso você carrega sua empresa tatuada na pele e por ela trabalha como um louco, inclusive aos sábados, domingos e feriados. Por isso, mesmo podendo, abre mão de festas e férias, viagens e cruzeiros que a maioria dos seus amigos está fazendo nesse momento. Por isso, ora ou outra, você está visivelmente cansado e sem a menor paciência e disposição para os programas que as pessoas querem que você faça. As pessoas não te entendem, mas você não se preocupa com isso. Você concluiu que a vida não é tão efêmera como algumas pessoas pensam e nem tão longa como outras pessoas pensaram. Você tem um sentido, um objetivo, um caminho a seguir onde o amor é apenas um ingrediente, não a receita completa.

Você quer o amor, sabendo que não é o bastante, mas não quer um amor que sufoca, que prende ou que cobra. Você já tem cobranças demais, pressões demais, gente demais enchendo sua cabeça com toda sorte de problemas. Você quer o amor como oxigênio, adoçando, colorindo, aliviando o peso e o preço que você paga para ser quem você é. Você quer o amor para encostar a cabeça, para te fazer dar risadas e para ter um motivo mais que perfeito para voltar para casa ao fim de um dia. Você quer um amor, mas não quer um amor qualquer. Você quer ô Amor... Com menos ciúme e mais confiança, com menos conflitos e mais harmonia, sintonia e sabedoria. Você quer um amor leve e sadio, que respeite sua individualidade, que não se anule e que não tente te anular. Afinal, você não é mais um menino, já não carrega meias certezas, meias palavras e dúvidas inteiras. Você sabe o que você quer, vive o que você quer e com quem você quer. Isso sim é o bastante.

Fiquem bem e se cuidem.
Beijos,
Deco.