quarta-feira, setembro 10, 2008

DOCES DESILUSÕES ÁCIDAS


Esta é a síntese antagônica da vida real... Você experimenta o bem e o mal. Você conhece o completo e o vazio. Você descobre o singular e o plural. Você vive o coletivo e a solidão. Você acredita em meias verdades, até que entende que meias verdades sempre deságuam em mentiras inteiras. Você mergulha de cabeça em romances fatídicos que invariavelmente se findam em amores não vividos. Você se ilude e se desilude numa velocidade sentimentalmente indigesta, frenética, quase inaceitável... Até que um dia você aprende a sonhar menos, a viajar menos nas pessoas e principalmente, a esperar menos, bem menos delas.

Talvez fosse melhor viver de ilusões. Talvez fosse mais bacana e anestésico viver à margem da realidade. Talvez fosse mais fácil escolher um amor barato numa esquina e se divertir se descartando. Talvez fosse mais doce um caminho mais fácil, prático e moderno. Talvez fosse mais confortável e bem menos angustiante viver entorpecido de ilusões... Tanta gente vive e se "acha" bem demais. Talvez fosse melhor vulgarizar seu nível de exigência em relação ao mundo e as pessoas - e simplesmente igualar-se, mas não, você agradece. Você não é o tipo de pessoa que faz o que todo mundo faz. Você descobriu um mundo despido, totalmente nu e assim, agora, só o consegue ver. Seus trinta e um anos não deixaram de pé muitas ilusões e falsidades. Por mais falso que soe o mundo. Por mais descartáveis que se mostrem as pessoas. Por mais azeda que ora sim, outrora não, se mostre a realidade cotidiana, é nela, constante e conscientemente nela que você quer ficar.

Que me desculpe o competente cineasta e escritor francês Jean Cocteau (Maisons-Lafitte, 05/07/1889 - Milly-la-Forêt, 11/10/1963), mas contradizer-se não é um luxo, um luxo é desiludir-se! É se despir de toda e qualquer casca. É se desfazer de joguinhos, de artimanhas e desse rostinho fake. É se furtar de toda máscara, capa ou maquiagem. É sentir, perceber e se permitir ousar, se expor, mesmo contrário a massa, mesmo soando ácido demais em tempos de tanto glacê. É ser você mesmo sempre! Com qualquer pessoa, em qualquer lugar ou situação. É viver de acordo com o que seu coração e sua essência dizem... A vida não é um rio de mão única! Ninguém é obrigado a tocar seu leme pelo caminho que a moda, seja ela qual for neste minuto, dita.

Amém! Deus nos deu a liberdade, um coração que sente e uma cabeça inteligente. Não precisamos de mais nada... Acredito cada dia mais que a grande graça dessa vida e o maior passo para entendê-la seja mesmo desiludir-se. Viver com a verdade dia e noite, noite e dia. Doendo, latente, seja dor. Batendo, ardente, seja amor. Loucas ou normais, alegres ou tristes, as sensações e percepções que temos sobre o mundo e as pessoas estão aí para nos ensinar a viver nele e com elas da melhor forma possível. Para que enfim possamos ser homens e mulheres mais evoluídos e essencialmente, mais dignos uns dos outros. Para que enfim possamos ser mais humanos - e menos egoístas, comuns, racionais.

Fiquem bem e se cuidem.
Beijos,
Deco.