quinta-feira, dezembro 18, 2008

::::::::::::::::: MEU DIVÃ VIRTUAL :::::::::::::::::


Já ouvi muitas pessoas dizerem que me exponho demais por aqui. Que não devia ser assim tão aberto, tão sincero, tão explícito no manejo das palavras. Mas devo deixar claro que não me importo tanto com esse lance de exposição. Nessa vida, gostando ou não, deliberadamente, sempre tem gente analisando ou pior, julgando a maneira como vivemos, pensamos, agimos, levamos a nossa vida, enfim... Se a gente for se preocupar com esse tipo de coisa, nem consegue viver. Sim, é verdade. Na contramão da tal exposição, sou uma pessoa extremamente reservada e também anti-social, anti-chilique, anti-modinha, anti-multidão. Mesmo, literalmente. Tenho verdadeira aversão a sorrisos amarelos, despidos de sentimentos, que nos dias de hoje andam fartos por aí a fim de garantir um social perfeito. Tenho preguiça-mór de programas do tipo tem que ir - todo mundo vai. Esses chavões de promoters meia boca, essas baladas puramente mercantis não me pegam mais. Foi-se o tempo em que eu me sentia mal, em que eu me sentia out por não ter conseguido o convite para a balada do ano. Resumo-me a quem eu gosto, a quem gosta de mim e a quem acrescenta de alguma maneira na minha vida. Resumo-me aos lugares e programas com essência, que são capazes de me trazer prazer e paz. O resto? É sempre o resto. Deixo pra quem curte e que, aliás, é tanta gente, não é mesmo? A verdade nada virtual é que pouquíssimas pessoas conhecem a minha casa, o meu ninho e mais raras ainda são aquelas que sabem da minha vida no cotidiano e do meu coração, mas aqui a história é outra... Antes de qualquer coisa o Trilhas da Vida é um espaço aberto às pessoas do bem, onde trocamos idéias, ideais, questionamentos, experiências e sentimentos. É lugar de comunhão, de troca, de amizade, de terapia em grupo. E sinceramente, não vejo modo de isso funcionar sem exposição, sem jogo aberto, limpo e com muita transparência (como acontece naturalmente desde o começo). Se eu for falso ao invés de sincero, reservado ao invés de explicito, adeus. Não consigo escrever de outra maneira que não desta que vocês conhecem, mesmo sendo reservado, mesmo sabendo que essa abertura aqui é de certa maneira uma puta contradição.


Seguindo a linha que abre divã, eu me olho no espelho e pergunto: Quem é você, hein André?

Bem, não se iluda, eu não sou uma pessoa das mais fáceis de levar (quem é?). É a primeira coisa que me respondo - olhos nos olhos - bem da minha maneira (acho o olhar uma das coisas mais verdadeiras e entregues que a gente possui. A boca mente, a cabeça mente, mas os olhos não, eles são sempre honestos). Quando digo que não sou fácil não quero dizer que sou marrento também não, entende? Acho cheguei num ponto da minha vida em que vejo as coisas assim como são, simples, despidas, sem muita fantasia ou ilusão e como me conheço e respeito a minha essência, não costumo seguir o que vai contra ela. E isso é não ser fácil de levar, Deco? Podem acreditar, é sim. Para o mundo em que vivemos hoje, é. As pessoas não digerem muito bem esse modo escancarado de ver a vida, os conceitos, as coisas. As pessoas, em sua maioria, vivem num mundo de faz de contas, entorpecidas de ilusões, fingindo pra ficar de pé, fazendo de conta e levando, empurrando a vida com a barriga. Não curto isso. Não consigo nem mesmo conviver com esse tipo de comportamento. Direito delas? Claro que é. Cada um é cada um. Cada um é dono do seu leme. Mas não me convide a ser assim, tudo bem? Não tente me provar que é melhor. Não me peça pra fingir que está bom. Gosto de ser realista. Gosto de chão. Gosto de realidade seja ela qual for.

Continuo em pé, olhos nos olhos. Eu e eu. Eu e o espelho.

Vejo minhas cinco tatuagens... Uma a uma. Gosto bem da coisa de tatuar. Acho que a tatuagem é algo extremamente expressivo, algo que te representa, meio que te traduz, sabe? Nada a ver com esse modismo sem sentido, estética ou vaidade. Acho bacana a expressão, o conceito com o qual você se identifica ali, estampado na cara do mundo. Por falar nisso, a sexta tatuagem que na verdade é a quinta (já que vai cobrir uma frase que tenho nas costas) está com o desenho quase pronto, estou acabando de acertar o desenho e já estou contando os dias para tatuá-la. Por que vou cobrir minha frase nas costas? Simples, questão espaço. O casal de dragões (é, eu também não sei se existe dragão fêmea, mas se não existe, agora vai existir) é gigante e não cabe nas minhas costas se eu não cobrir a frase. E o que é a frase? Love all the ways of Love (Amo todos os caminhos do amor) que sim, já me rendeu alguns comentários idiotas sobre sexualidade (a cabeça do povo é fértil demais), como se eu amasse também o amor homossexual, o que não condeno e não tenho preconceito, mas que não é e nem nunca foi a minha.

Quando eu era adolescente meu pai achou um maço de cigarros na minha mochila e um tempinho depois descobriu que eu fumava, resultado prático: Adeus mesada! Logo eu precisava de dinheiro, mais para comprar cigarro do que pra lanchar no colégio e como não ganhei na mega sena, o jeito foi trabalhar. Minha vida de trabalho começou bem cedo, aos doze anos lá estava eu - um nanico cabeçudo trabalhando meio horário para bancar seu vício. Eita! Mas com o tempo a necessidade foi morar em segundo plano, fui tomando gosto pela coisa de trabalhar, de conhecer muitas pessoas (de todas as classes, raças, níveis e tribos imagináveis), de ter meu dinheiro, minha independência. Achava o máximo poder sair sem ter que pedir dinheiro pro meu pai. Enfim, me apaixonei pelo comércio de automóveis - e não demorou muito para o meio horário virar horário integral. O colégio da manhã passou pra noite e eu que nunca fui lá um bom aluno, me tornei uma espécie de mestre na arte de colar. Imaginem, se quando eu tinha a tarde inteira pra estudar eu dormia, não era agora chegando onze da noite em casa que eu ia virar um estudante exemplar. Hoje, dezenove anos depois, posso dizer que o trabalho foi uma das melhores coisas que eu conheci na vida. Além do dinheiro, trouxe maturidade, senso, conhecimento, valor e experiência.

Por trabalhar no comercio, cresci ouvindo de pessoas que sem dinheiro você é um ninguém no mundo dos negócios e mais - que é a partir do primeiro milhão que aparecem as melhores oportunidades, onde você começa a dar as cartas, o que concordo, é a mais pura verdade. O rio corre pro mar, sempre. Mas espera aí, estamos falando de um milhão, certo? E um milhão é muito dinheiro! Vai ganhar um milhão trabalhando honestamente... Vai ganhar um milhão nessa economia montanha russa aqui do Brasil. Mesmo assim, mesmo muito longe do milhão, fixei a idéia e capitalizei minha cabeça, eu queria dinheiro, muito dinheiro... Eu queria meu primeiro milhão para poder dar as cartas. E esse primeiro milhão se tornou uma coisa meio emblemática na minha vida. Uma coisa meio que de alpinista que persegue o topo da montanha. Mas com o passar do tempo fui percebendo que o dinheiro traz também toda sorte de coisas negativas. É isso mesmo que você pensou aí: Interesse, inveja e um tanto quase inesgotável de outras coisas nojentas, absolutamente negativas. É fácil ver só o lado bom das coisas, mas sempre existe o outro lado e com o dinheiro, claro, não é diferente. Não, eu não desisti, o primeiro milhão ainda mora na minha cabeça e talvez um dia o conquiste, talvez não, vai saber... Sei que a vida é mais que isso. Sei, sem ser hipócrita, que o mundo é total capitalista. E que o dinheiro é o baralho que você precisa para entrar na roda e jogar o jogo, e ganhar num dia, e perder no outro.

Bom, aos dezoito anos eu conheci o amor. Não, eu não fui o homem perfeito nem o homem dos sonhos de toda mulher quando conheci o amor. Sou ser humano, e ser humano erra. Erra no sentido de mentir, de trair, de inventar, de se inventar pro outro acreditar. Eu não sou diferente. Sou fã do amor. Sou mesmo, declaradamente, é muito bom poder sentir mais alguém dentro do peito além de você mesmo. É menos individual, menos egoísta. Dá mais sentido, fôlego e paciência pra você aturar clientes chatos e problemas de toda natureza. Mas se sou tão fã do amor, por que não fui uma pessoa melhor quando estava amando? Boa pergunta, André, excelente pergunta! Existe uma coisa que se chama comodidade. O que com toda certeza, é um câncer pra qualquer relacionamento humano. É cômodo ter o melhor sexo da sua vida. É cômodo ter o melhor beijo entre as incontáveis bocas que você já beijou. É cômodo ter o melhor cheiro, a melhor química, o melhor carinho, o melhor Bom Dia! Boa Tarde! Boa Noite! É cômodo ter uma pessoa que cuida de você, que se preocupa com você e que te admira muito. É cômodo você ter tudo o que você pediu a Deus nas suas orações noturnas bem ali, na sua frente em carne e osso. É cômodo, é prático, até você perder (e você perde). Até ir embora e deixar uma dor mais indigesta do que quilos de bacon em pleno café da manhã. Então deixa de ser cômodo para se transformar em incômodo – e como incomoda, hein gente? Músicas, cheiros, expressões, todo um cenário de lembranças te cercam. Agora sua memória é um universo de amor. Você não come. Você dorme mal. Você sofre, mas você aprende. E então você começa a ter algo tão importante quanto oxigênio para sobreviver e ser feliz, maturidade afetiva. Saber entender, valorizar e respeitar de uma maneira gigantesca aquilo que você está vivendo. Saber o quanto é raro alguém morar no seu peito e mais, que isso infelizmente, não acontecerá muitas vezes na sua vida. Saber que ter e manter são aliados na sobrevivência, nada, absolutamente nada funciona sem manutenção. Saber separar as tentações (que sempre nada são) da qualidade do que está ali, bem diante do seu nariz.

E a vida é assim mesmo, é um leva e traz que só acaba quando a gente morre. Sim, às vezes ficam algumas dores no peito, é verdade. Dores por não conseguir voltar lá trás e consertar as coisas. É, infelizmente, o cambio do tempo não possui marcha ré... Errou? Pague seu erro, viva com ele e aprenda. Essa é lei. Talvez os anos te tragam uma nova chance de repará-los ou não, talvez eles existam apenas para servir de exemplo num momento em que você não poderá cometer o mesmo erro. O que importa é superar, aprender, levantar a cabeça e seguir sem esquecer a lição. Há quem diga que quem vive de passado é museu. Há quem diga que a vida anda é para frente. Eu concordo com os dois, mas menos extremismo aí, viu? Isso não torna seu passado um capitulo desinteressante, apagado, inexpressivo da história. Mora lá, exatamente lá, a resposta para muita pergunta que você se faz hoje, aqui, agora. Não tenha medo, voltar no passado não significa que você vai ficar murmurando, se lamentando o resto dos dias pelo que você perdeu ou que na verdade, tenha ganhado... Essa coisa de perder e ganhar é bem relativa, não?

Chega de análise, né? Esse é ultimo texto de 2008. Um ano que, verdadeiramente, não foi nada fácil pra mim. Começou com um grave acidente de moto que quase me tirou do ar e seguiu - pesado e seco – mês a mês – dia após dia. Foi sem dúvida alguma o ano em que menos saí de casa e com toda certeza também o que mais me conheci. E isso é algo divino, se conhecer é uma experiência muito necessária e positiva. É bacana você ficar com você durante um tempo longo, se fechar, se interiorizar. É maravilhoso você ir de encontro a você mesmo e se descobrir, e se entender, e se permitir, se encontrar. Você e você. Você e seus pensamentos. Você e seu coração. Eu bem sei que não é fácil, que aparenta solidão e amargura - e sei também que a maioria das pessoas têm dificuldades de ficar sozinho (o que não me faz melhor do que ninguém). Mas garanto a vocês, é uma passagem profunda, única e bem menos solitária e narcisista do que aparenta.

Que dois mil e nove venha logo e se abra com dias recheados de paz, amor e energia positiva em nossas vidas. Esse trio pode soar clichê agora, quase na virada, mas é ele que nos torna gente, é ele que faz nascer um mundo melhor. É ele que torna amigos mais amigos, amores mais amores. Que o Papai do Céu continue lá em cima nos iluminando e que iluminados, sejamos mais humanos, mais coração e menos matéria. O mundo é capitalista sim, mas amém! Somos gente e queremos é amar.


Feliz Natal e um Reveillon Maravilhoso para vocês !!!
Obrigado pelo carinho, pela amizade e pela doçura.
Vocês tornam minha vida melhor !!!
Fiquem na paz e se cuidem, hein?
A gente se encontra em 2009 !!!
Beijos mil,
Deco.

domingo, outubro 12, 2008

E-MUNDO

Hoje é mais uma tarde de sábado. Mais uma tarde, sentado na mesma cadeira, bebendo a mesma bebida, fumando o mesmo cigarro e olhando para a mesma vista bonita de sempre. A vida se repete. Eu me repito. Rotina não tem fuga, minha querida, é a vida cotidiana num ensaio geral com a própria vida. E elas contracenam, incessantemente, todo santo dia, durante vinte e quatro horas e minutos e segundos. Acha morno? Acha repetitivo? Não agüenta? Não dá conta? Melhor morrer.

Você não precisa me ler. Você não precisa mudar. Você não precisa agir. Você não precisa me ouvir, mas ouça o seu travesseiro... Am? É isso mesmo! Ouça o seu travesseiro! Aquele cheio de flocos, que sempre te espera sozinho, macio e frio em cima da cama todas as noites. Aquele de penas de ganso, que te traz no silêncio da madrugada, num sussurro breve e seco, todas as verdades inquietas e inteiras que você fingiu não ouvir lá na rua. Escute-o. Permita-o. Deixe-o derramar a realidade sem açúcar nos seus ouvidos um instante. Deixa de marra, vai... Não seja impulsiva. Não troque seu travesseiro cheiroso por uma conchinha meia boca no apagar das luzes. Você não precisa me ler. Você não precisa mudar. Você não precisa agir. Você não precisa me ouvir, mas acredite em mim. O seu travesseiro é seu amigo e o melhor e mais neutro conselheiro que você possui aí, bem do seu lado.

Não, meu bem, não é culpa de Deus, que ainda não me fez trombar de cara com a mulher da minha vida. Não é culpa dessa sociedade, que se mostra cada vez menos atraente e mais hipócrita e suja. Não é culpa do meu travesseiro também não, viu? Essa culpa, que talvez não seja culpa nenhuma (tantos vêem como evolução), é livre de um culpado único, singular. É uma culpa sem cara, sem dono, sem lastro. É uma culpa pulverizada e generalizada demais... É culpa de quem agiu errado e de quem, mesmo sabendo, deixou agir. De quem foi aonde não devia e de quem foi junto também. De quem começou esse lance e de todos aqueles que o seguiram - que aceitaram que assim, desse jeito fácil, oco e mórbido estava bom, era prático. A culpa é minha. A culpa é sua. A culpa é de todos nós. Você carrega a sua? Você convive com ela? Eu carrego a minha e se você deseja mesmo saber, se você realmente se interessa por isso, ela mora num coração que amou duas vezes e que se viciou no amor. Ela mora num coração que fez do amor a sua cocaína, seu alimento, seu oxigênio básico de cada dia. Um coração viciado e insistente que amou e que voltou a amar - e que ama - e que segue querendo amar mais e mais e mais. Um coração que mora dentro desse cara que aqui escreve, um ser meio doidinho que não entende o mundo moderno e que, definidamente, não combina com ele.

Por que a insensibilidade tomou conta do mundo? Por que tudo é sempre frio e estranho? Por que o dizer é clichê e o ser artificial? Por que tudo vira festa, vira divertido, vira eletrônico e digital? Por que todo mundo diz que quer alguém, mas ao mesmo tempo age assim, tão cheio de pose, tão cheio de máscaras, tão maquiado? Por quê? Por quê? Por quê? Mil e nove vezes... Por quê? Alguém me diz. Alguém me fala alguma coisa mais ou menos substancial. Ei! Você! Alguém aí do outro lado, solte um discurso menos pensado, menos pronto, menos Mc Donald’s por favor. Porque eu não tenho a resposta para nada não. Não encha de perguntas a minha caixa postal... Eu não sou mais nem menos do que ninguém nesse planeta - e não tenho a cura para dor do mundo que mora em mim também. Eu quero saber, assim como vocês, da mesma forma, do mesmo jeito e com a mesma urgência. Como que cura isso? Como que faz para parar de latejar? Como que faz para não questionar o que está aí, totalmente contrário ao que pensamos e sentimos? Me conta aí você que sabe... Me conta aí você que tem uma resposta digna, não uma droga barata para me oferecer. E não me venha com aquele papo ultrapassado de duelo dos sexos, de machismo x feminismo. Não venha me dizer que o caos existe porque a mulher tornou-se independente. Não diga que é porque nos dias de hoje tudo é muito vulgar. Não venha me contar que tudo se tornou fácil e sem cor e sem valor e sem amor. Eu quero novidade! Aquilo que eu ainda não sei. Traz o novo aqui pra mim, vai. Traga uma resposta mais aceitável para que eu possa enfim entender e aceitar que o mundo é esse aí mesmo e que o ser humano e os sentimentos, são de fato esse lixo perfumado que segue aparecendo em mini-micro-roupas-sei-lá-de-onde, todos os dias, todas as tardes e todas as noites.

Obrigado, eu agradeço. Não quero isso pra mim não. Procure um menino, um playboy, um ser não pensante e nem aí pra vida como você. Iguale-se querida. Eu não tenho mais vinte e poucos anos e tampouco não estou nem aí pra nada. Eu estou aí sim, entende? Eu estou aí! Eu estou aqui! E pode continuar difícil... Pode piorar... Pode parecer até impossível... Podem se repetir zilhões sábados como este... Eu não desisto dos meus sonhos. Seguirei derramando num papel inocente as coisas que extrapolam o meu ser. As coisas que não cabem aqui dentro e que talvez, digo muito provavelmente, nunca irão caber. E se você disser que eu estou condenado, que estou fadado a viver nesse conflito que bem parece um motorzinho de dentista, pode anotar aí na sua agenda: Eu viverei.
Vou me recusar até a morte de ser quem eu não sou. Vou me negar até o último dia da minha vida a retroceder. A voltar a ser aquele babaca que achava que era alguém se divertindo à custa do sofrimento dos outros. A voltar a ser aquele projeto de ser humano que semeava ilusões a cada beijo fútil e sem graça. A voltar a dar “end” nas pessoas que me ligam e me achar um cara muito requisitado por isso. A voltar a mentir, a enganar, a esconder o que está aqui dentro gritando pra sair, apenas por capricho de ego, apenas para não me expor... Eu me exponho mesmo! E se você não gostou e se você não está gostando, aqui, agora, lendo? Que deus te ilumine muito! Siga sua vida, suas crenças e seu caminho.

Eu quero mesmo é que se foda o controle. Que se foda a certeza. Que se foda a moda, a posse e o domínio. Que se foda o ciúme doentio. Que se foda também essa coisa largada, descompromissada, livre demais. Quero mesmo, cada dia mais, que se fodam todas essas regrinhas pré-fabricadas desse mundo e-mundo. O meu jogo é não jogar. E se assim eu perder, se lá no fim da estrada eu for minha própria companhia, terei orgulho demais. Eu conheci o amor, sei o que é amar e me sinto, verdadeiramente, privilegiado e abençoado por isso.

Fiquem bem e se cuidem.
Beijos,
Deco.

psiu: Atendendo aos pedidos que venho recebendo há algum tempo por email solicitando que eu permitisse a vocês cópias dos meus textos, tudo bem, vocês venceram. Está liberado. Eu desabilitei o sistema que impedia o mouse de selecionar e copiar os textos. Sou favorável a liberdade desde que ela não se transforme em plágio. Portanto, podem colocar no orkut, em outros blogs, enfim, aonde vocês quiserem. Cada um sabe o que faz... Ao clicar com o botão direito do mouse não aparecerá mais a mensagem TODOS OS DIREITOS RESERVADOS o que também não significa que de fato eles não estejam.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Feche seus ouvidos...

Existem coisas que só o coração pode escutar.

Isso é bonito demais!

quarta-feira, setembro 10, 2008

DOCES DESILUSÕES ÁCIDAS


Esta é a síntese antagônica da vida real... Você experimenta o bem e o mal. Você conhece o completo e o vazio. Você descobre o singular e o plural. Você vive o coletivo e a solidão. Você acredita em meias verdades, até que entende que meias verdades sempre deságuam em mentiras inteiras. Você mergulha de cabeça em romances fatídicos que invariavelmente se findam em amores não vividos. Você se ilude e se desilude numa velocidade sentimentalmente indigesta, frenética, quase inaceitável... Até que um dia você aprende a sonhar menos, a viajar menos nas pessoas e principalmente, a esperar menos, bem menos delas.

Talvez fosse melhor viver de ilusões. Talvez fosse mais bacana e anestésico viver à margem da realidade. Talvez fosse mais fácil escolher um amor barato numa esquina e se divertir se descartando. Talvez fosse mais doce um caminho mais fácil, prático e moderno. Talvez fosse mais confortável e bem menos angustiante viver entorpecido de ilusões... Tanta gente vive e se "acha" bem demais. Talvez fosse melhor vulgarizar seu nível de exigência em relação ao mundo e as pessoas - e simplesmente igualar-se, mas não, você agradece. Você não é o tipo de pessoa que faz o que todo mundo faz. Você descobriu um mundo despido, totalmente nu e assim, agora, só o consegue ver. Seus trinta e um anos não deixaram de pé muitas ilusões e falsidades. Por mais falso que soe o mundo. Por mais descartáveis que se mostrem as pessoas. Por mais azeda que ora sim, outrora não, se mostre a realidade cotidiana, é nela, constante e conscientemente nela que você quer ficar.

Que me desculpe o competente cineasta e escritor francês Jean Cocteau (Maisons-Lafitte, 05/07/1889 - Milly-la-Forêt, 11/10/1963), mas contradizer-se não é um luxo, um luxo é desiludir-se! É se despir de toda e qualquer casca. É se desfazer de joguinhos, de artimanhas e desse rostinho fake. É se furtar de toda máscara, capa ou maquiagem. É sentir, perceber e se permitir ousar, se expor, mesmo contrário a massa, mesmo soando ácido demais em tempos de tanto glacê. É ser você mesmo sempre! Com qualquer pessoa, em qualquer lugar ou situação. É viver de acordo com o que seu coração e sua essência dizem... A vida não é um rio de mão única! Ninguém é obrigado a tocar seu leme pelo caminho que a moda, seja ela qual for neste minuto, dita.

Amém! Deus nos deu a liberdade, um coração que sente e uma cabeça inteligente. Não precisamos de mais nada... Acredito cada dia mais que a grande graça dessa vida e o maior passo para entendê-la seja mesmo desiludir-se. Viver com a verdade dia e noite, noite e dia. Doendo, latente, seja dor. Batendo, ardente, seja amor. Loucas ou normais, alegres ou tristes, as sensações e percepções que temos sobre o mundo e as pessoas estão aí para nos ensinar a viver nele e com elas da melhor forma possível. Para que enfim possamos ser homens e mulheres mais evoluídos e essencialmente, mais dignos uns dos outros. Para que enfim possamos ser mais humanos - e menos egoístas, comuns, racionais.

Fiquem bem e se cuidem.
Beijos,
Deco.

sexta-feira, julho 18, 2008

TRINTA E UM


É muito simples... Quando você quer ir à lua, tem que se preparar durante anos e anos. Tem que estudar como um louco, fazer cursos, uma infinidade absurda de testes físicos e aprender a viver a vida de outro modo, sem gravidade, sem gente, sem isso, sem aquilo e sem sei lá mais o quê. Não adianta! Você pode ter o dinheiro ou a capacidade que for e mesmo assim não pode entrar numa nave e no estalo dizer: Eu vou! Afinal, ir a lua não é como pegar o carro e ir comprar pão na padaria da esquina. Tem que saber o que está fazendo, tem que estar preparado e ciente de todos os riscos, dos prós e dos contras (que tudo, absolutamente tudo na vida tem). Assim, desta mesma forma, eu vejo o amor e o casamento.

Não adianta você achar que está pronto. Não adianta querer. Não adianta sonhar... Você tem que, literalmente, estar pronto. Tem que, também literalmente, já ter vivido o suficiente para ter certeza e se conhecido mais do que suficiente ainda para dividir sua vida, sua cama e seu cotidiano com alguém. Não basta achar, não basta desejar, não basta disposição e paixão apenas. Não se você é alguém que não admite se casar por casar, embalado naquela máxima moderna - e escrota, estúpida e idiota - de que “se não der certo, separa”. Ainda assim, mesmo depois de tudo, quando você já entender que está pronto, quando você enfim tiver certeza absoluta de tudo isso aí em cima, você descobre que ainda não é o suficiente. Nesse ponto, nessa hora, ir à lua se torna algo bem mais fácil e prático... Basta que você tenha cumprido a risca cada etapa, que tenha estudado e se dedicado direitinho, que você vai. Pronto!
Mas para o amor e fundamentalmente para o casamento, isso não é bastante.

Ninguém se casa sozinho. Ninguém se casa consigo mesmo. Falta outro alguém... Falta outra parte... Uma parte que não depende exclusivamente de você ou meramente dos lugares que você freqüenta. Uma parte que mescla destino com sorte e química com amor. Portanto, para essa parte, é preciso paciência, muita paciência. Você tem que saber esperar e esperar e esperar... E esperar, eu garanto, é um dom viu? Haja paciência, vodka e cigarro para esperar por algo que você deseja com tanta volúpia e que ainda não viveu. Haja noites em claro, pensamentos perdidos e vontades incubadas que se esparramam pelo chão do seu quarto em todas as manhãs. Haja tanta coisa, tanto sentimento, tantos filmes que vão e vem na sua cabeça. Lembranças, memórias, estilhaços de passagens que o tempo parece não ser capaz de apagar (e que talvez nem deva). Vale mesmo lembrar, de cada erro que você cometeu, para que ele fique nítido e não se repita. Vale lembrar, do valor das coisas, das pessoas e do quanto é bom e gratificante acordar com amor pulsando, batendo forte dentro peito.


É... Viver com sede de amor nos dias de hoje não é uma tarefa fácil. Você insiste e o mundo insiste contra. Você odeia as baladas e o mundo diz que você não será feliz sem elas. Você se furta da sociedade e ela se furta de você. É automático, real e seco. Você investe em pessoas que não merecem sua companhia. Você aposta em coisas que não tem absolutamente nada a ver com sua essência. E então, você se fode... Você se complica... Você se fere fundo... Você bate com a cara na porta uma, duas, mil e trezentas vezes. Você se perde. Você se questiona. Você não entende, mas você aprende (e dessa parte aí eu gosto muito). Você aprende! Aprende e se vacina... Por isso me recolhi. Por isso estou e continuarei na minha. Longe de ondas e mais longe ainda de quem vive nelas. Como diz uma frase que conheço: “Remar contra a maré cansa, mas deixar a maré levar, afoga”. É isso! Mesmo que o mundo me veja mais sozinho do que de fato estou. Mesmo que me cubram de rótulos. Mesmo que a pressão seja incômoda e chata como de fato é. Eu não vou contra o que eu acredito. Não vou contra minha experiência. Não vou contra o meu coração e muito menos na onda de povinho "descolado" nenhum. Reservado. Fechado. Anti-social. Polêmico. Vejam-me como quiserem... A vida é minha e o que todos vêem, é só o meu jeito... É só minha forma de ver as coisas, as pessoas, o mundo. É só minha sede de amar para sempre, de ser marido, de ser pai. O resto eu já vivi e se me permitem a transparência costumeira, não quero mais. Se o que estou vivendo agora é uma espécie de preço que devo pagar para viver o que eu quero, o que eu desejo, o que eu sonho todas as noites... Tudo bem, eu aceito, eu pago.

Feliz amor para vocês, sem ele, definitivamente, não somos nada.

Beijos,
Deco.

quinta-feira, junho 12, 2008

Doze


Ficar ou não Ficar?

Nasceu no começo dos anos 90 o que anos mais tarde se tornaria a maior quebra de paradigma das relações afetivas: Ficar.

Fica daqui, fica de lá e logo se ditou que não seria mais preciso conhecer a fundo uma pessoa para beijá-la, alias, mal seria necessário conhecê-la. Ficou acertado que poderíamos a partir de então dar adeus aquele teatro mega babaca de namorar na sala, de ter que conhecer pai e mãe, tia, avó e cachorro antes de um simples beijo. É! Eu concordo. Ficar revolucionou, rebelou, derrubou conceitos sócio-familiares pregados há décadas e desmistificou a fundo a relação a dois. Mas ficar também tornou simples demais o que está longe de ser tão simples assim. Estar com alguém por uma noite ou por alguns minutos é um encontro, e por mais descolado, liberal ou retrógrado que você seja neste encontro existe troca e claro, expectativas também.

Ficar é multi-experimentar. É viver livre pelas baladas exercendo a liberdade ao extremo. Beija uma aqui, beija outra ali e a amiga da outra lá, sem compromisso, sem satisfações e dia seguinte. Ficar é isso. Ficar é aquilo. Ficar é tudo de bom. Mas ficar é também abraçar o vazio, um vazio provocado pela descontinuidade simples, pela nítida ausência de um sentimento maior no envolvimento de duas pessoas. Culpa da modernidade? Culpa da globalização? Culpa do consumismo? Talvez sim, ficar nos tornou objeto do desejo alheio, como a bolsa da vitrine ou tênis da moda; Olhou, gostou, beijou, ficou... Com uma, com outra e com tantas outras... Até que um dia descobrimos que isso é bem menos saudável e gostoso quanto parece.

Depois de beijarmos 1.032 bocas diferentes, o sabor do beijo não é mais o mesmo. Já não sabemos nem mesmo qual é o nosso beijo. Vem a sensação de mesmice e repetição. De vazio e solidão. Depois de transarmos quase por esporte, por mera química ou tesão, o prazer da descoberta, da conquista e do gostinho bom de quero mais não tem a mesma intensidade. Ao fim de tudo e depois de tantas aventuras “amorosexuais”, estamos sozinhos. Sem colo e sem chão. Sem “Bom Dia” e “Boa Noite”.

Ficamos, ficamos e ficamos para quê? Para depois questionarmos a solidão na base do chega logo amor. Tantos nomes, tantos números na agenda do celular e um ninguém para chamarmos de meu bem. Não quero pregar o retorno dos conceitos e valores que já se foram, mas cabe a nossa geração, ontem precursora, hoje vítima do liberalismo afetivo, refletir e conscientizar-se do explícito, do evidente, do humano: Queremos mesmo é amar.
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Esse texto foi escrito e postado em março de 2004 num outro blog que eu tinha naquela época. Resolvi trazê-lo de volta hoje, dia dos namorados, com pequenas alterações. Hoje é o dia dos namorados, apenas mais uma datinha comercial. O mundo mudou... E nós nos fudemos.

Aos namorados apaixonados, Feliz Dia dos Namorados! Amem-se, beijem-se, adorem-se e contemplem-se diariamente. Esqueçam os presentes, o melhor está dentro de cada um. Aos solteiros, calma, paciência e amor próprio até a tampa.
Fiquem bem...
Beijos,
Deco.

sexta-feira, maio 23, 2008

SOLTEIRO E FELIZ, DUETO IMPOSSÍVEL?

Socialmente, familiarmente, culturalmente, há uma cobrança explícita, uma imposição absurda que nos cerca dentro desse contexto. É como se você fosse obrigado a existir em par, a viver em par, a sair em par. É como se você não pudesse ser feliz sozinho, com você mesmo, na sua e numa boa. O que na verdade, na raiz da relação humana, é a pré-condição para você ser feliz ao lado de qualquer pessoa.

Parece óbvio, mas não é. As pessoas não se conhecem... Não sabem de si mesmas... Não se entendem... Não se aceitam como são. As pessoas mal conseguem uma sintonia entre suas próprias idéias, anseios e sentimentos - e mesmo assim, ainda assim, saem por aí se relacionando alucinadamente. Como se as outras pessoas fossem descartáveis (assim, cada vez mais, elas vêm se tornando). Como se o amor fosse um antídoto, um remédio barato e rápido para os conflitos internos do coração. A tampa da panela. O asfalto pro buraco. A metade da laranja. O fim definitivo da sua condição sentimental mal resolvida. Não, lamento dizer, ele não é.

Se você não está bem. Se você não sabe o que quer. Se você está inquieto e não segura a sua onda, pelo amor de deus, desista de se envolver! Talvez seja a hora de se recolher um pouco. Talvez seja o momento certo para você tentar ser sua companhia por um momento, por um dia, por uma noite de sábado. Você consegue? Porque se você não dá conta da pessoa mais importante da sua vida, você mesmo, pobre das outras, pobre de quem está envolvido com você.

Eu concordo! Namorar faz muita falta. Colo faz muita falta. Carinho faz muita falta. Cumplicidade faz muita falta. Beijar a boca de quem a gente ama faz muita falta. Fazer sexo com amor faz mais falta ainda. Não estou aqui defendendo a bandeira de que ser solteiro é a condição mais bacana do planeta. Não é! Muito pelo contrário, carrego a certeza que a vida é infinitamente mais bonita e mais gostosa quando estamos cheios de amor... Tudo é mais doce, tudo é melhor, até mesmo a dor. Temos realmente que pensar em namorar, casar e ter filhos, mas enquanto isso não acontece precisamos viver bem, precisamos ser felizes. Afinal, a ausência de alguém na nossa vida não é, definitivamente, o fim da linha. É perfeitamente possível ser solteiro e feliz. É possível vencer as angústias, as carências, os medos e até mesmo uma deprê ocasional de um dia ou outro, sozinho. Dói? Dói também. Mas são coisas da vida. Isso não tem a ver com ter ou não alguém. É melhor ficar sozinho do que usar as pessoas... É melhor ficar sozinho do que apoiado em muletas emocionais. É melhor ficar sozinho na sua própria companhia do que sozinho numa imensa multidão.

O tempo passa e quanto mais velho você fica, mais convive com as tiradinhas de que só quer a balada, a liberdade ou que está ficando pra titio... O povo brinca. O povo fala. O povo é criativo demais... É a cobrança. É a pressa. É urgência emocional que tomou conta do mundo. Homem e Mulher. Negro e Branco. Todos querem ser dois. Todos querem amar... Mas todos se esquecem, ou preferem não lembrar, que amor não nasce da noite pro dia. Amor ninguém inventa, ninguém projeta, ninguém planeja, ninguém estuda. Amor é diferente de tudo. Vem pra quem se ama, vem pra quem acredita, vem pra quem merece e principalmente, pra quem está inteiro e completo - pronto pra vivê-lo.
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Pessoas queridas, agradeço a preocupação, o carinho e apoio que recebi através de e-mails e comentários. Vocês são demais! Obrigado mesmo, de coração.
Fiquem bem e se cuidem...
Beijos,
Deco.

quinta-feira, março 13, 2008

A VOLTA DE QUEM NÃO FOI


“Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou nãoresponde quando lhe indagam sobre algo que sabe. Morre lentamente…" (Pablo Neruda)

A sua vida pode acabar daqui a um segundo. Por isso é tão importante que você, apesar de tudo, de qualquer situação, perda ou problema, lute todos os dias pela sua felicidade. Tudo bem, eu sei, minha afirmação é beeeeeem óbvia! Qualquer pessoa normal tem perfeita noção da fragilidade da vida e dos riscos, dos inúmeros riscos que corremos em nossos cotidianos malucos e alucinados. Qualquer pessoa normal, mesmo que não seja amante de nada radical, mesmo que não se aventure ou que não curta adrenalina, sabe que quem vive também pode, a qualquer momento, morrer. Mas saber é uma coisa, viver é outra muito diferente.

Depois de um grave acidente que me deixou em coma por 10 dias, posso dizer que a minha noção desse risco se aguçou muito. Posso também dizer, aliás, garantir, que é mesmo num estalo de dedo que a gente fica ou vai embora daqui. Eu poderia estar com minha perna esquerda amputada. Eu poderia ter ficado paraplégico. Eu poderia ter tido traumatismo craniano. Enfim, eu poderia ter uma infinidade incontável de seqüelas ou até mesmo, não estar mais aqui neste momento escrevendo. Mas para minha sorte, para minha felicidade e daqueles aos quais significo alguma coisa, alguém lá em cima, lá no alto do céu em meio a tantas orações, decidiu que não era minha hora. Apesar da cirurgia, de todas as dores, traumas e do afastamento completo da minha rotina, eu literalmente nasci de novo.

Aqui, agora, aos 53 dias da minha “nova vida”, digo que você descobre um mundo totalmente novo depois que passa perto de ir embora. As pessoas, as coisas, você mesmo. Tudo soa de um jeito diferente. Sentimentos. Essências. Conceitos. Idéias. Valores. Ideais. Experiências. Tudo se renova. Tudo se transforma. Então você se questiona pra caramba... Fica se perguntando um milhão de coisas... Reavaliando dia por dia, ano por ano, momento por momento de praticamente tudo que você já viveu. Aonde você acertou... Aonde você errou... O que realmente valeu à pena? Quem valeu realmente à pena? O que foram seus 30 anos de vida e o que será daqui para frente?

Difícil responder assim, no tapa. Mas é possível dizer que me orgulho muito da família que eu tenho. O carinho, a preocupação, a dedicação absoluta e o amor incondicional que eles sentem por mim é a coisa mais bonita que existe. Que sou grato (uma a uma) a todas as pessoas que já passaram pela minha vida - e a todas aquelas outras que nela ainda estão. Que acredito mesmo no amor, seja difícil, complicado, brega, doído ou o que for. Que sinto que a vida foi feita para viver a dois - e que se casar pode ficar fora moda o quanto o mundo quiser e ainda sim seguirei sonhando com isso todas as noites. Que o homem não é nada nem ninguém sem o trabalho. Que por mais que o mal persista, ser do bem é sempre a melhor opção, o melhor caminho, o melhor destino. Que o limite de cada coisa é algo a ser respeitado, assim como o corpo, a vida, a natureza, o coração e as outras pessoas. Que o dinheiro é menos, bem menos importante do que parece ser. E que tudo vem no tempo certo para cada um, mas é preciso fé, sabedoria e paciência.

Por fim, de carona com a pérola do Neruda que abre este texto, deixo... Não morram lentamente! Valorizem a vida, a família, os amigos e claro, os amores, os danados dos amores também. A vida pode ter lá seus precipícios, suas dificuldades, seus desafios e seus problemas, mas é boa e infinitamente bela se soubermos levá-la. Se estressem menos. Se desgastem menos. Reclamem menos. Trabalhem menos. Se irritem menos. Não vale a pena! O que se leva daqui é mesmo, sem tirar nem por, a vida que se leva.

Fiquem com Deus, esse papai do céu é o cara.
Beijos,
Deco.