quinta-feira, maio 27, 2010

SOBRE ESCOLHAS


Eu sei que soa clichê a famosa frase que diz: A vida é feita de escolhas!

Eu sei que existe algo lógico e aparentemente óbvio nessa expressão - que convenhamos, é uma puta verdade! Eu também sei que a escolha é uma posição que nos acompanha desde pequenos... Quando nem mesmo sabíamos o que de fato estávamos escolhendo. Num tempo em que nossos critérios eram mais simples, sensíveis e bonitos... Da escolha de uma carteira onde iríamos assentar para assistir as aulas até as coleguinhas, com quem anos mais tarde, trocaríamos o primeiro beijo da nossa vida.

Tantos caminhos, tantas direções, tantas escolhas... E escolher parece simples, parece natural e fácil, até mesmo quando nos deparamos com uma centena de opções.

Vocês podem voltar no tempo comigo um pouquinho?

“Eu quero ficar com ela, por que ela é a mais linda do colégio... Eu quero ficar com ele, por que ele é o mais gato da minha sala... Eu quero ficar com ela, por que ela gosta muito de mim... Eu quero ficar com ele, por que todas as minhas amigas já ficaram... Ah! Eu quero ficar com ela, por que ela é a cara da Jade - para os mais esquecidos, Luciana Vendramini, a ninfeta top da Rede Globo no final dos anos 80. Ah! Eu quero ficar com ele, por que ele é a cara do Matosão - para as mais esquecidas, o vampiro galã da novela Vamp protagonizado por Flávio Silvino.”

Pegando uma carona nessa nostalgia toda, preciso registrar uma lembrança doce da memória: Nesse mesmo tempo, tão antigo e bonito, eu conheci a primeira paixão da minha vida: A professora Stael. Ela dava aula para a segunda série quando eu cursava a terceira, no bucólico Instituto Nossa Senhora do Carmo, colégio onde cursei a 3ª e 4ª série do primário. Stael! Ah Stael! Eu tão menino e você tão mulher... Eu sabia que não tinha a menor chance... Eu sabia que nossa diferença de idade transformava meu amor em sonho... Eu sabia que o sentimento era eternamente platônico... Sabia e mesmo assim, falseando uma sede desértica, saia mil vezes de sala só para te namorar pelo vidro da porta da sua sala... E mesmo assim, todos os dias quando eu voltava da aula, colocava a fita K7 da Tracy Chapman e ouvia 600 vezes - Baby Can I Hold You - pensando em você... Stael! Vinte anos se passaram e hoje, mesmo sabendo numa prosa de pescaria com o meu pai que vocês se envolveram naquela época... Sempre que tocar essa musica eu vou me lembrar de você, da primeira vez que o meu coração bateu mais forte por alguém.

Devolvendo a nostalgia para a memória, posso afirmar: A vida é - e sempre será feita de escolhas! Escolhas estas que não se mostram nítidas e concretas nesse modernismo urgente, carente e virtual... Que regrou, utopicamente, que não escolher é uma forma de escolha. Que definiu, custando solidão, depressão ou angústia, que a liberdade é o tesouro dourado da humanidade, nossa bandeira, nosso motivo de existir. Que ditou falsamente, eu insisto, que feliz é quem que não constitui família, quem troca sua essência para ser, pensar e sentir do jeito que a moda manda - da forma fake que a mídia quer.

Quando pensamos hoje, tanto tempo depois, realmente nossas escolhas infantis parecem estranhas, idiotas e platônicas. Mas querem saber? Eu tenho é muita saudade delas, viu? Estranhas, idiotas, platônicas... Eram puras, afetuosas, inocentes. Despidas desse interesse social, materialista e nojento. Despidas desse querer desmedido, dessa vontade de sexo casual e numérico. Despidas da falta de valor, ternura e cumplicidade. Despidas desse jeito covarde que escolhe um caminho pensando em todos os outros que não seguiu... Despidas desse foco no umbigo, desse egoísmo avulso que não constrói amor nenhum. Despidas enfim de solidão e desespero, desses humanos que se resumiram muletas, meras muletas uns dos outros.

Se cuidem...

Beijos,

Deco