quinta-feira, dezembro 18, 2008

::::::::::::::::: MEU DIVÃ VIRTUAL :::::::::::::::::


Já ouvi muitas pessoas dizerem que me exponho demais por aqui. Que não devia ser assim tão aberto, tão sincero, tão explícito no manejo das palavras. Mas devo deixar claro que não me importo tanto com esse lance de exposição. Nessa vida, gostando ou não, deliberadamente, sempre tem gente analisando ou pior, julgando a maneira como vivemos, pensamos, agimos, levamos a nossa vida, enfim... Se a gente for se preocupar com esse tipo de coisa, nem consegue viver. Sim, é verdade. Na contramão da tal exposição, sou uma pessoa extremamente reservada e também anti-social, anti-chilique, anti-modinha, anti-multidão. Mesmo, literalmente. Tenho verdadeira aversão a sorrisos amarelos, despidos de sentimentos, que nos dias de hoje andam fartos por aí a fim de garantir um social perfeito. Tenho preguiça-mór de programas do tipo tem que ir - todo mundo vai. Esses chavões de promoters meia boca, essas baladas puramente mercantis não me pegam mais. Foi-se o tempo em que eu me sentia mal, em que eu me sentia out por não ter conseguido o convite para a balada do ano. Resumo-me a quem eu gosto, a quem gosta de mim e a quem acrescenta de alguma maneira na minha vida. Resumo-me aos lugares e programas com essência, que são capazes de me trazer prazer e paz. O resto? É sempre o resto. Deixo pra quem curte e que, aliás, é tanta gente, não é mesmo? A verdade nada virtual é que pouquíssimas pessoas conhecem a minha casa, o meu ninho e mais raras ainda são aquelas que sabem da minha vida no cotidiano e do meu coração, mas aqui a história é outra... Antes de qualquer coisa o Trilhas da Vida é um espaço aberto às pessoas do bem, onde trocamos idéias, ideais, questionamentos, experiências e sentimentos. É lugar de comunhão, de troca, de amizade, de terapia em grupo. E sinceramente, não vejo modo de isso funcionar sem exposição, sem jogo aberto, limpo e com muita transparência (como acontece naturalmente desde o começo). Se eu for falso ao invés de sincero, reservado ao invés de explicito, adeus. Não consigo escrever de outra maneira que não desta que vocês conhecem, mesmo sendo reservado, mesmo sabendo que essa abertura aqui é de certa maneira uma puta contradição.


Seguindo a linha que abre divã, eu me olho no espelho e pergunto: Quem é você, hein André?

Bem, não se iluda, eu não sou uma pessoa das mais fáceis de levar (quem é?). É a primeira coisa que me respondo - olhos nos olhos - bem da minha maneira (acho o olhar uma das coisas mais verdadeiras e entregues que a gente possui. A boca mente, a cabeça mente, mas os olhos não, eles são sempre honestos). Quando digo que não sou fácil não quero dizer que sou marrento também não, entende? Acho cheguei num ponto da minha vida em que vejo as coisas assim como são, simples, despidas, sem muita fantasia ou ilusão e como me conheço e respeito a minha essência, não costumo seguir o que vai contra ela. E isso é não ser fácil de levar, Deco? Podem acreditar, é sim. Para o mundo em que vivemos hoje, é. As pessoas não digerem muito bem esse modo escancarado de ver a vida, os conceitos, as coisas. As pessoas, em sua maioria, vivem num mundo de faz de contas, entorpecidas de ilusões, fingindo pra ficar de pé, fazendo de conta e levando, empurrando a vida com a barriga. Não curto isso. Não consigo nem mesmo conviver com esse tipo de comportamento. Direito delas? Claro que é. Cada um é cada um. Cada um é dono do seu leme. Mas não me convide a ser assim, tudo bem? Não tente me provar que é melhor. Não me peça pra fingir que está bom. Gosto de ser realista. Gosto de chão. Gosto de realidade seja ela qual for.

Continuo em pé, olhos nos olhos. Eu e eu. Eu e o espelho.

Vejo minhas cinco tatuagens... Uma a uma. Gosto bem da coisa de tatuar. Acho que a tatuagem é algo extremamente expressivo, algo que te representa, meio que te traduz, sabe? Nada a ver com esse modismo sem sentido, estética ou vaidade. Acho bacana a expressão, o conceito com o qual você se identifica ali, estampado na cara do mundo. Por falar nisso, a sexta tatuagem que na verdade é a quinta (já que vai cobrir uma frase que tenho nas costas) está com o desenho quase pronto, estou acabando de acertar o desenho e já estou contando os dias para tatuá-la. Por que vou cobrir minha frase nas costas? Simples, questão espaço. O casal de dragões (é, eu também não sei se existe dragão fêmea, mas se não existe, agora vai existir) é gigante e não cabe nas minhas costas se eu não cobrir a frase. E o que é a frase? Love all the ways of Love (Amo todos os caminhos do amor) que sim, já me rendeu alguns comentários idiotas sobre sexualidade (a cabeça do povo é fértil demais), como se eu amasse também o amor homossexual, o que não condeno e não tenho preconceito, mas que não é e nem nunca foi a minha.

Quando eu era adolescente meu pai achou um maço de cigarros na minha mochila e um tempinho depois descobriu que eu fumava, resultado prático: Adeus mesada! Logo eu precisava de dinheiro, mais para comprar cigarro do que pra lanchar no colégio e como não ganhei na mega sena, o jeito foi trabalhar. Minha vida de trabalho começou bem cedo, aos doze anos lá estava eu - um nanico cabeçudo trabalhando meio horário para bancar seu vício. Eita! Mas com o tempo a necessidade foi morar em segundo plano, fui tomando gosto pela coisa de trabalhar, de conhecer muitas pessoas (de todas as classes, raças, níveis e tribos imagináveis), de ter meu dinheiro, minha independência. Achava o máximo poder sair sem ter que pedir dinheiro pro meu pai. Enfim, me apaixonei pelo comércio de automóveis - e não demorou muito para o meio horário virar horário integral. O colégio da manhã passou pra noite e eu que nunca fui lá um bom aluno, me tornei uma espécie de mestre na arte de colar. Imaginem, se quando eu tinha a tarde inteira pra estudar eu dormia, não era agora chegando onze da noite em casa que eu ia virar um estudante exemplar. Hoje, dezenove anos depois, posso dizer que o trabalho foi uma das melhores coisas que eu conheci na vida. Além do dinheiro, trouxe maturidade, senso, conhecimento, valor e experiência.

Por trabalhar no comercio, cresci ouvindo de pessoas que sem dinheiro você é um ninguém no mundo dos negócios e mais - que é a partir do primeiro milhão que aparecem as melhores oportunidades, onde você começa a dar as cartas, o que concordo, é a mais pura verdade. O rio corre pro mar, sempre. Mas espera aí, estamos falando de um milhão, certo? E um milhão é muito dinheiro! Vai ganhar um milhão trabalhando honestamente... Vai ganhar um milhão nessa economia montanha russa aqui do Brasil. Mesmo assim, mesmo muito longe do milhão, fixei a idéia e capitalizei minha cabeça, eu queria dinheiro, muito dinheiro... Eu queria meu primeiro milhão para poder dar as cartas. E esse primeiro milhão se tornou uma coisa meio emblemática na minha vida. Uma coisa meio que de alpinista que persegue o topo da montanha. Mas com o passar do tempo fui percebendo que o dinheiro traz também toda sorte de coisas negativas. É isso mesmo que você pensou aí: Interesse, inveja e um tanto quase inesgotável de outras coisas nojentas, absolutamente negativas. É fácil ver só o lado bom das coisas, mas sempre existe o outro lado e com o dinheiro, claro, não é diferente. Não, eu não desisti, o primeiro milhão ainda mora na minha cabeça e talvez um dia o conquiste, talvez não, vai saber... Sei que a vida é mais que isso. Sei, sem ser hipócrita, que o mundo é total capitalista. E que o dinheiro é o baralho que você precisa para entrar na roda e jogar o jogo, e ganhar num dia, e perder no outro.

Bom, aos dezoito anos eu conheci o amor. Não, eu não fui o homem perfeito nem o homem dos sonhos de toda mulher quando conheci o amor. Sou ser humano, e ser humano erra. Erra no sentido de mentir, de trair, de inventar, de se inventar pro outro acreditar. Eu não sou diferente. Sou fã do amor. Sou mesmo, declaradamente, é muito bom poder sentir mais alguém dentro do peito além de você mesmo. É menos individual, menos egoísta. Dá mais sentido, fôlego e paciência pra você aturar clientes chatos e problemas de toda natureza. Mas se sou tão fã do amor, por que não fui uma pessoa melhor quando estava amando? Boa pergunta, André, excelente pergunta! Existe uma coisa que se chama comodidade. O que com toda certeza, é um câncer pra qualquer relacionamento humano. É cômodo ter o melhor sexo da sua vida. É cômodo ter o melhor beijo entre as incontáveis bocas que você já beijou. É cômodo ter o melhor cheiro, a melhor química, o melhor carinho, o melhor Bom Dia! Boa Tarde! Boa Noite! É cômodo ter uma pessoa que cuida de você, que se preocupa com você e que te admira muito. É cômodo você ter tudo o que você pediu a Deus nas suas orações noturnas bem ali, na sua frente em carne e osso. É cômodo, é prático, até você perder (e você perde). Até ir embora e deixar uma dor mais indigesta do que quilos de bacon em pleno café da manhã. Então deixa de ser cômodo para se transformar em incômodo – e como incomoda, hein gente? Músicas, cheiros, expressões, todo um cenário de lembranças te cercam. Agora sua memória é um universo de amor. Você não come. Você dorme mal. Você sofre, mas você aprende. E então você começa a ter algo tão importante quanto oxigênio para sobreviver e ser feliz, maturidade afetiva. Saber entender, valorizar e respeitar de uma maneira gigantesca aquilo que você está vivendo. Saber o quanto é raro alguém morar no seu peito e mais, que isso infelizmente, não acontecerá muitas vezes na sua vida. Saber que ter e manter são aliados na sobrevivência, nada, absolutamente nada funciona sem manutenção. Saber separar as tentações (que sempre nada são) da qualidade do que está ali, bem diante do seu nariz.

E a vida é assim mesmo, é um leva e traz que só acaba quando a gente morre. Sim, às vezes ficam algumas dores no peito, é verdade. Dores por não conseguir voltar lá trás e consertar as coisas. É, infelizmente, o cambio do tempo não possui marcha ré... Errou? Pague seu erro, viva com ele e aprenda. Essa é lei. Talvez os anos te tragam uma nova chance de repará-los ou não, talvez eles existam apenas para servir de exemplo num momento em que você não poderá cometer o mesmo erro. O que importa é superar, aprender, levantar a cabeça e seguir sem esquecer a lição. Há quem diga que quem vive de passado é museu. Há quem diga que a vida anda é para frente. Eu concordo com os dois, mas menos extremismo aí, viu? Isso não torna seu passado um capitulo desinteressante, apagado, inexpressivo da história. Mora lá, exatamente lá, a resposta para muita pergunta que você se faz hoje, aqui, agora. Não tenha medo, voltar no passado não significa que você vai ficar murmurando, se lamentando o resto dos dias pelo que você perdeu ou que na verdade, tenha ganhado... Essa coisa de perder e ganhar é bem relativa, não?

Chega de análise, né? Esse é ultimo texto de 2008. Um ano que, verdadeiramente, não foi nada fácil pra mim. Começou com um grave acidente de moto que quase me tirou do ar e seguiu - pesado e seco – mês a mês – dia após dia. Foi sem dúvida alguma o ano em que menos saí de casa e com toda certeza também o que mais me conheci. E isso é algo divino, se conhecer é uma experiência muito necessária e positiva. É bacana você ficar com você durante um tempo longo, se fechar, se interiorizar. É maravilhoso você ir de encontro a você mesmo e se descobrir, e se entender, e se permitir, se encontrar. Você e você. Você e seus pensamentos. Você e seu coração. Eu bem sei que não é fácil, que aparenta solidão e amargura - e sei também que a maioria das pessoas têm dificuldades de ficar sozinho (o que não me faz melhor do que ninguém). Mas garanto a vocês, é uma passagem profunda, única e bem menos solitária e narcisista do que aparenta.

Que dois mil e nove venha logo e se abra com dias recheados de paz, amor e energia positiva em nossas vidas. Esse trio pode soar clichê agora, quase na virada, mas é ele que nos torna gente, é ele que faz nascer um mundo melhor. É ele que torna amigos mais amigos, amores mais amores. Que o Papai do Céu continue lá em cima nos iluminando e que iluminados, sejamos mais humanos, mais coração e menos matéria. O mundo é capitalista sim, mas amém! Somos gente e queremos é amar.


Feliz Natal e um Reveillon Maravilhoso para vocês !!!
Obrigado pelo carinho, pela amizade e pela doçura.
Vocês tornam minha vida melhor !!!
Fiquem na paz e se cuidem, hein?
A gente se encontra em 2009 !!!
Beijos mil,
Deco.