quarta-feira, dezembro 30, 2009

DEZ


Ufa! Agora é possível rabiscar alguma coisa no papel.

Agora, só agora, que se findaram os formigueiros de gente e a sede quase desértica de ter a qualquer custo nem bem se sabe o quê. Agora, que retomamos nossas vidas e que deixamos de nos seduzir pelas propostas baratas de felicidade fácil que pulam da televisão todos os dias. Agora, que a fila do estacionamento do shopping parou de dobrar duas vezes o quarteirão - e que as buzinas ensurdecedoras (que não me deixam dormir) deixaram de existir. Agora, que as pessoas deixarão de ser gentis e bondosas por apenas uma noite, e voltarão a ser elas mesmas - talvez um pouco melhores, quem sabe... Agora sim é possível respirar um oxigênio mais limpo e menos consumista. Agora, que a realidade que eu tanto gosto e que tanto me alimenta e nos cerca cotidianamente, vai nos abraçar com uma saudade... Ora doce, outrora ácida, como a vida sempre é.

Um abraço, Papai Noel. Até a próxima... Até o ano que vem! Senão pela felicidade de alguns pequenos que sempre se contrasta com a tristeza, a solidão e a fome de tantos outros, o senhor nem devia existir. A fartura estúpida de nossas mesas é indigesta demais e as diferenças sociais que se acentuam tanto nessa época, mais ainda.

Enfim, chegou a hora de virar mais uma página do nosso livro, mais um capítulo da nossa história, mais um trecho da nossa trilha. É hora de rever, de refletir, de amadurecer, de aprender, de crescer, de perdoar, de se perdoar, enfim. Chegou a hora de tirar os planos do papel, de encher o peito de esperança e de fazer acontecer. Ao contrário do Natal, a virada do ano é uma data que mexe muito comigo... Não pelas festinhas babacas que rolam pelos vinte e nove cantos do país. Não pela sede de ter um réveillon perfeito e claro, não também pela centena de vezes que temos que responder, com ares de criminosos, que não, que ainda não sabemos para onde vamos na virada! Chegou a hora, acima de tudo, de pedirmos menos, de reclamarmos menos, de olharmos para baixo e agradecermos a Deus ou a quem se tenha fé, nossas vidas imperfeitas e bonitas.

Quero deixar aqui registrado um desejo bem simples para vocês. Eu desejo para cada um, que passou por aqui durante o ano inteiro e também para aqueles que vieram apenas uma vez, mas que conseguiram levar alguma coisa boa... Eu desejo para quem dividiu o coração, para quem trocou comigo e também para quem se calou... Eu desejo para cada um que tem essência e sensibilidade... Para cada um que consegue manter seu coração doce, romântico e sonhador nesse mundo tão estranho e salgado, um amor verdadeiro.

Que 2010 seja mais que um número bonito, que ele se torne o marco precursor de uma década de mais gentileza e sensibilidade. Que possamos correr menos e depender menos de onde estão agora os ponteiros do relógio. Que possamos beijar na chuva e fazer amor sem não me toques, em plena madrugada. Que possamos nos olhar nos olhos e nos abraçar forte, sabe? Derramando sem medo ou culpa ou qualquer protocolo, nosso afeto para aqueles que o merecem, que o conquistaram, que são dignos do nosso sentir. Que em 2010 nossa semente tão rebelde e tão fora de moda, floresça muito e mostre ao mundo que apesar dessa modernidade mórbida, que muito acima de ficar ou enrolar ou sei lá, é o amor que faz acontecer.

Que a paz possa reinar serena e absoluta.
Fiquem bem e tenham uma boa virada!
Beijos,
Deco

sexta-feira, novembro 13, 2009

IN LOVE

Se um dia alguém te disser que um simples gesto, que uma atitude hoje, aqui, agora pode mudar toda a sua história, acredite. Se um dia uma pessoa lhe falar que o destino existe e que ele pode te trazer surpresas maravilhosas, acredite. Se um dia um amigo te falar que sentimentos não precisam de artimanhas e joguinhos para florescer, acredite. Se um dia um canceriano aparentemente louco, escrever sobre a fé no amor e defender a sinceridade, a cumplicidade e a paixão entre duas pessoas, acredite.

A história é única. A nossa história é única. A gente não tinha um motivo certo para dar certo. A gente não tinha nenhuma razão para se reencontrar. Profissões distintas. Amigos distintos, A gente não tinha sequer uma afinidade aparente, senão tatuagens pelo corpo e um cigarro aceso na boca. A gente era distante demais, a gente simplesmente não existia um pro outro. A gente nem mesmo se lembrava com detalhes daquele encontro meio morno, aparentemente insignificante e ao mesmo tempo, tão fundamental que tivemos há seis anos. Essa vida é muito louca, não é? Quando podíamos imaginar... Quando? Quando podíamos ver isso existindo, acontecendo lindamente fora de uma sala de cinema? A gente precisou namorar e terminar com outras pessoas. A gente precisou viver a vida. A gente precisou conhecer tanta gente. A gente precisou não ser um do outro. A gente precisou se polir e precisou errar e crescer, aprender e amadurecer, para depois, tanto tempo depois, se reencontrar.

Sabe aquele encontro gostoso? Sabe aquela noite em que Deus devia mudar o tempo só por causa do amor? Sabe aquela noite que merecia durar um ano inteiro? Eu ficaria um ano na nossa primeira noite. Eu ficaria um ano degustando cada pedacinho, cada sorriso, cada troca de olhar que rolou entre a gente. Eu ficaria um ano achando que ainda era cedo para o Ora Bolhas fechar... Eu ficaria um ano naquele beijo gostoso, naquela química perfeita, naquela mistura de cheiros. Eu ficaria um ano te olhando, te conhecendo, te querendo, achando um charme seu piercing dourado no nariz. Eu ficaria um ano gostando da sua voz, namorando sua boca, te descobrindo. Eu ficaria um ano sem questionar meu romantismo fora de moda. Eu ficaria um ano deixando o coração tocar a vida como quisesse. Eu ficaria um ano sem medo e sem protocolo, te acordando com rosas vermelhas sem me preocupar se ainda é cedo pra isso. Eu ficaria um ano livre de qualquer máscara, me declarando apaixonado, entregando o jogo e o coração, te contando meu sentir olhando dentro dos seus olhos. Eu esperaria seis anos para viver esta noite.

Bonito? Não... O melhor adjetivo é pouco. Prefiro um verbo, pode ser? Então vou de sentir, porque sentir talvez seja a palavra que mais se aproxime de traduzir. Vou de sentir, porque sentir é algo honesto, estampado, aparente ao mundo. Vou de sentir, porque sentir que você está com alguém é diferente e também distante de meramente estar. Vou de sentir, porque sentir demanda reciprocidade e sinceridade. Vou de sentir, porque sentir é bom, porque sentir é tudo, porque eu te sinto aqui comigo escrevendo esse texto – e sinto mesmo.
Se cuidem...
Beijos,
Deco.


terça-feira, setembro 29, 2009

A MINHA FÉ

Acredito que cada um de nós carrega dentro si uma força, um instinto protetor, uma espécie de luz que nos guia por toda a existência. Acredito que exista de fato um propósito para cada acontecimento, para cada encontro e desencontro - e para cada sentimento que nasce dentro do peito todos os dias. Acredito que sempre, sempre colhemos aquilo que plantamos, ainda que um período de seca exista para nos fazer melhores e essencialmente, para trazer amadurecimento. Acredito que pessoas inteligentes usam seus erros e os dos outros para buscar crescimento e superação. Acredito que as pessoas que não mais nos cercam ou ainda, que não fazem mais parte de nossas vidas, não deviam mesmo permanecer entre nós. Com o devido respeito aos que perderam seus entes queridos, Deus sabe dos porquês e tem a resposta para todos eles. Talvez um dia consigamos entender, talvez não. Se tudo nessa vida tem um preço, pagar, no prazer e na dor, o preço dessas presenças e ausências é o que nos faz gente, é o que nos faz ser.

Acredito que os animais, apesar de teoricamente irracionais, são figuras infinitamente mais puras, desprendidas e amorosas que nós, meros humanos. Acredito também que temos muito, mas muito a aprender com eles e ainda que cientes disso, que poucos de nós de fato o farão. Acredito que nunca, ainda que pensemos em matéria farta e corpos mega sarados, chegaremos a tão focada e sem sal, perfeição. Acredito que somos totalmente comodistas e adeptos de uma conveniência moderna, onde queremos e gostamos somente daquilo que nos convém no presente, no aqui, no agora e ponto. Acredito também que trilhamos o caminho de uma nítida involução... Que fomos melhores e mais dignos, que fomos mais simples e mais felizes, ontem. Pois hoje, ora, num existir tão consumista e superficial, deixamos até mesmo de exigir essência uns dos outros... O que nos conforta, o que nos atende - nos basta.

É claro! É obvio! O mundo não combina com a gente - e o mundo que mora dentro de nós nos cobra e nos engole sem pena ou clamor. Negando ou admitindo, sabemos que o culto ao liberalismo afetivo, a uma liberdade semi vulgar, é a simbologia tatuada da nossa geração. Tal como terapias, análises, Rivotris e Lexotans. O amor, super careta, sumiu da nossa vida e a gente se tornou uma espécie estranha de ser. Uma espécie estranha e esquisita inclusive a nós mesmos, principalmente a nós mesmos. Você se olha no espelho e não se conhece? Fique tranqüila... Eu me olho no espelho e também não me conheço. Nos perdemos tanto, colamos tanto o pé na moda, que ninguém se conhece mais. Naufragamos, deliberadamente, numa vidinha faz de conta, num algo que nem mesmo sabemos verbalizar ou explicar o que de fato seja. E que segue sempre parecendo faltar alguma coisa... Naquilo que se mostra indecifrável como se fizesse parte de algum pedaço que passeia fora do dicionário. É fácil. É prático. É cool. É tudo de bom! E falta amor, e falta paixão e falta verdade na vida dos personagens da novela das oito que a gente tanto adora. E a gente? Fecha o olho e segue... Finge e vive... Roda a maquiagem e vai... Não temos tempo a perder! Tocando pra frente sem pensar, entre ressacas morais e flertes passageiros. Afinal, o que nos cerca, o que nos envolve e o que nos move é um consumo desenfreado, uma sede de pose desmedida. É a fake, é a casca que se retrata na mulher perfeita da revista (photoshopada até a alma) que todas querem ser. É no carro e no dinheiro que vai te proporcionar comer a mulher perfeita da revista e também, claro, suas pobres seguidoras... E resumiu. E fim de ciclo. Está tudo valendo, menos ternura. Am? Ter o que? Ter quem? Sumiu do dicionário, né? Carinho? Ficou meloso demais... E assim vamos. Nesse tiroteio que o mundo dita a gente segue levando... Segue se cegando. Afinal, ninguém disse que viver era fácil, disse? Então se vira nas 24 horas que nascem todos os dias! Porque esse, minha querida, é o mundo. Essa é vida. Esse é o cenário real e ácido do nosso filme viver.

Mas espera aí uai... Eu quero a cola dessa prova, quem não quer? Eu quero um papelzinho com o gabarito mesmo sabendo que isso não existe! Mesmo sabendo que vida é pra viver, pra dar com a cara no chão e machucar - e aprender - e ensinar... Mas mesmo assim, vem aqui! Eu quero um alívio imediato que se chama amor, entendeu? Porque eu sinto e tenho certeza que cada um de vocês, da sua forma, também sente, de maneira profunda e sozinha um peso indigesto dentro de si. Uma dor sem nome, sem explicação e sem analgésico. Porque sei que sentimos na carne, na pele e onde mais quiser. Porque sinto nos sentindo diferente de todos, pertencendo a outro gênero, a outra espécie – mesmo parecendo tão iguais.

Assim, desse jeito, nos cobrindo de porquês e embalados nos segundos de um relógio que nunca pára, sobrevivemos. Achando que a felicidade podia ser mais fácil e simples como de fato ela é. Achando que amor podia ser mais farto - e essencialmente, mais presente em nossas vidas como ele não anda sendo. Querendo encontrar a pessoa das nossas vidas para amar e envelhecer junto, mesmo já a essa altura da vida, entre tantas decepções, desconfiando que exista mesmo um alguém da vida de outro alguém. E como se não bastasse, a gente ainda escuta que estamos perdidos... Que somos exagerados... Que estamos loucos... Que somos exigentes demais. Pois digam e pensem o que quiserem, certo? Para esse mundinho nojento e vadio, nossa indiferença é guerreira e anda gritando alto demais.

Acreditamos em destinos, almas gêmeas e caras metades. Acordamos todos os dias com a esperança clara de que o hoje possa ser mais feliz do que o ontem. Mas não, os dias se repetem semanalmente, mensalmente, anualmente. As tardes e as noites seguem a linha. E de repente nos vemos dominados por um pensamento comum, coletivo, escroto. Agindo como as pessoas agem com a gente. Sendo superficiais como todos são a nossa volta. Julgando precitadamente e achando que qualquer gesto mais doce é demais, que qualquer sinceridade sobrou. Ham!

Acredito e aos incrédulos, morrerei acreditando, que quem prova do amor se vicia e quem sem ele não há de fato uma vida a ser vivida. Vida é para dois. Adoro essa frase! Tudo bem que não nascemos colados. Tudo bem que não existimos em par. Tudo bem que ninguém é insubstituível. Tudo bem que a individualidade é importante. Tudo bem!!! Mas um dia, alguns mais cedo, outros mais tarde, crescemos – e um dia nos apaixonamos - e um dia encontramos o amor - e então descobrimos que é só ele que colore a vida, que dá sentido as coisas e que nos entope de felicidade. Sim é ele, esse mesmo amor que nos faz refém, que nos faz vitima de um crime que a gente mesmo cometeu, que dá um sentido maioral ao que chamamos de vida. Que nos cobre de um sentimento que transborda e derrama, de um sorriso fácil que não pára de se abrir, ainda que um dia se finde em lágrimas.

Por fim, aliás, por fé, acredito em mim, em vocês e em Deus. E por mais decepções que ele me trouxe ou ainda venha me trazer, eu acredito mesmo no amor. Mesmo que isso se torne careta ao extremo, mesmo que isso se torne quase ilegal, eu acredito sem medo e seguirei acreditando, que é ele, o amor, a coisa mais bacana e mais bonita que eu já conheci nessa minha vida. E seguirei conhecendo... E seguirei conhecendo... E seguirei conhecendo.

Fiquem bem!
Beijos,
Deco.

sexta-feira, julho 31, 2009

O RETORNO

Eu, a casa grande e a loja bonita de carros.

A maioria das pessoas que passaram pela minha vida nos últimos quatro anos e meio, me associou assim, em trio. No capitalismo selvagem a gente não consegue, por mais que tenha conteúdo no peito e na cabeça, se desvincular de alguns rótulos. Fazer o quê? Assim, naturalmente, para essas mesmas pessoas, penso que me tornei como a capa de um antigo vinil... Formatado. Rotulado. Impresso. Quem é aquele? É o menino da vida perfeita. É o menino que mora no paraíso. É o menino, que ninguém conhece e que mesmo assim todos julgam deliberadamente. É o dono da melhor concessionária da cidade. É o filho do fulano de tal... Coisas de interior, tititi infinito enfim. Ninguém nunca me perguntou como é a minha vida. Ninguém nunca quis saber se eu estava bem ou ao menos como andava meu coração de canceriano. As pessoas, as pobres pessoas, sempre pensaram na vida perfeita que eles imaginavam que eu levava, do jeito perfeito que eles sonhavam que eu levava e ponto. Isso os alimentou. Isso os alimenta.

Eu, a casa grande e a loja bonita de carros.

Eu não tenho porque mentir, ok? Amo conforto! Adoro qualidade e venero coisa boa, quem não gosta? Venero. Adoro. Amo. Mas desde pequeno eu trabalho demais, viu? Conforto não é de graça, qualidade não cai do céu e eu não sou um filhinho de papai! Mesmo assim, com todos os privilégios que Deus me deu, eu raramente nadei naquela piscina. Eu nunca tomei sauna a noite depois de um dia estressante de trabalho. Eu nunca fiz festinhas com um coletivo de beldades nuas a minha espera na piscina. Na verdade ácida e cotidiana que nunca foge de nós, eu nunca usei sequer um terço daquele espaço maravilhoso. Eu nunca vivi a vida que as pessoas imaginaram que eu vivia. Nunca. Essa vida só existiu e apenas existiu na fantasia, na ilusão da micro-mini-cabeçinha delas. E o que parece perfeito, a vida dos sonhos a tantos e tantos olhos, definitivamente, não é.

Eu, a casa grande e a loja bonita de carros.

Está tudo pronto aí? Está tudo certo? Então não tenha medo... Vem aqui e senta na minha cadeira um pouquinho. Brinque de ser André Toledo e viva a minha vida por um mês antes de me julgar o menino da vida perfeita. Ah você não quer? Então silêncio! Porque pouquíssimas pessoas que eu conheço, suportariam um mísero diazinho senão estivessem mesmo muito obstinadas e dispostas ao crescimento pessoal e financeiro. Fico impressionado, gente. As pessoas focam tanto a matéria, tanto o capital, que se esquecem de que você é humano e tem um coração dentro do peito. Ninguém sabe é de nada, sabia? Ninguém teve peito para pagar o preço que paguei e fica aí falando merda. Ninguém vai saber como foram as minhas noites e meus dias. Ninguém. Ninguém vai entender os porquês da minha volta e da minha atitude. para eles, tão repentina. Mas tudo bem, eu não quero mesmo o entendimento de ninguém. Nem pena. Nem complacência. Nem apoio. Eu quero a felicidade simples que mora em coisas pequenas, mas tão pequenas, que a maioria das pessoas que vivem no que chamamos de mundo, sequer vê. Portanto, antes, bem antes de julgar... Vai lá, filho! Trabalhe doze horas todos os dias. Trabalhe sábado, domingo e feriado de carnaval. Vai lá viver a vida perfeita e depois, se você agüentar o batente, você volta e me conta, combinado?

Eu, a casa grande e a loja bonita de carros.

Acreditem em mim, aliás, mais que isso... Imprimam o que vou lhes dizer num lugar em que vocês possam ler todos os dias. A nossa felicidade não mora numa vida perfeita. Vida perfeita é utopia surreal. A nossa felicidade não está em paredes de granito e nem incubada atrás de muros de quinze metros de altura ou na piscina olímpica que brilha com sol. A felicidade é completamente desplugada de qualquer matéria. E isso não é um discursinho socialista anti-grana, anti-matéria não. Isso é apenas alguém dizendo que isso não é tudo. Parece bonito. Parece bacana. Parece feliz. Parece perfeito, mas não é. E desse não ser, eu bem conheço... É o famoso lado B da história. O lado que todos enxergam, mas que ninguém quer ver. É a contra mão de um formatinho social pré-fabricado na cabeça da maioria. E é por isso, exatamente por estar no limite desse lado B que eu estou voltando para Belo Horizonte. Valeu a pena o tempo fora? Valeu muito! Valeu demais, não vou negar. Não me arrependo de uma vírgula da minha vinda e de nada que ficou para trás, mas minhas asas estão querendo vento e não comodidade, felicidade e não status – e é isso, exatamente isso que eu vou buscar,

Que Deus ilumine esta nova trilha da minha vida. Esse novo capítulo da minha história
E ilumine também a vida de cada um de vocês, que sempre são tão carinhosas comigo.
Vocês são muito especiais na minha vida, não tenham dúvidas, podem acreditar!

Fiquem bem e se cuidem...
Beijos,
Deco.

PS: Dei uma repaginada no visual da casa. Agora nos links tem SEGUIDORES e TWITTER, onde vocês podem ser informadas das atualizações do blog e também de idéias curtas que hora ou outra aparecem na minha cabeça. Espero que gostem e que muito em breve eu possa voltar a postar com mais freqüência, gosto muito desse lugar. Obrigado pelo carinho e vale dizer... Esse blog só existe porque é coletivo, porque é nosso e sempre vai ser.

sexta-feira, julho 17, 2009

LA TRAVESSIA


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa)
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Próximo de mais um aniversário e de mais uma travessia, não tenho dúvidas, o mundo que eu gosto, os gestos que eu admiro, não existem mais... E esse cenário cinza, essa maneira doente que o mundo se mostra, não combina em nada comigo. Que Deus me abençoe e me dê muita saúde e amor, é apenas o que eu preciso.

Fiquem bem.
Beijos,
Deco.

sábado, maio 09, 2009

:::: EM ALGUM LUGAR DO PASSADO ::::


Se o Tsunami acontecesse aqui, agora, com toda certeza eu não estaria sentado e escrevendo meus excessos numa folha de papel. Muito provavelmente, seria esse o último texto, minhas últimas letras, meu último dizer ao mundo. Nesse exato minuto se daria o último foco, o último respiro, minha última olhadinha na janela para avistar a paz que nasce na beleza da lagoa. Mas graças a Deus, o Tsunami não aconteceu aqui e com todo respeito e solidariedade ao povo asiático, hoje ele significa apenas mais uma lembrança, mais um episódio na memória, parte do passado.

Por muitas vezes, inconscientemente, cercamos nossos dias com lembranças distantes de um tempo que passou... Fatos. Pessoas. Lugares. Cheiros. Gostos. Músicas. Ora por uma saudade desmedida que engole o coração, outrora por pensar, equivocadamente, que fomos mais felizes antes. De carona em jargões famosos tipo “podia ter sido”, “se eu não tivesse errado”, “eu jurava que era ela”, amarramos nosso presente num tempo inerte e falido. Refletimos, analisamos e relembramos gestos, passagens e palavras sem perceber que assim acorrentamos nossas vidas num filme que passou. Num roteiro fechado e mórbido, não mutante. Onde não temos o mínimo poder de ação, onde entre começo, meio e fim não podemos mudar nada. Loucura? Pode até ser, e essa é a loucura mais normal e comum que eu conheço nesses tempos.

Não sei como isso funciona com vocês, mas sempre achei um tanto irônico reencontrar pessoas que fizeram parte da minha vida. Não apenas pelas mudanças físicas, que deixam claro o quanto é cruel o tempo com quem não se cuida, mas essencialmente pela cabeça, pelo amadurecimento, pela mudança de horizontes e conceitos. Quando o Lulu Santos disse em uma composição que tudo muda o tempo todo no mundo, ele tinha toda razão, tudo muda o tempo todo mesmo. Agora, tantos anos depois, tudo que você queria ouvir foi dito. Agora, que você já não sente nem mais uma gota de amor dentro do peito, a pessoa que já foi o amor da sua vida consegue olhar na mesma direção que você olhava. Agora, ela descobriu que ser do dia é bom e que as baladas escrotas que ela tanto venerava e um pote de lixo não se diferem em nada. Agora, que tanto tempo se passou, ela entendeu que um relacionamento não é fácil, que ciúme não é amor - e que o tal do amor não se encontra em qualquer esquina. Agora? Agora, é tarde demais. Que me desculpe o ser humano que inventou a língua portuguesa, mais precisamente o pretérito perfeito, mas o verbo amar se conjuga em um só tempo, no presente. Amei, amou, amaste, amamos, amastes, amaram... Nada disso é amor.

Psiu você aí, que me pediu o texto! Não foi? Não deu certo? Realiza querida. Não era pra ser! Acredite em mim, num futuro muito próximo você vai agradecer horrores por não ter sido. Não fique se questionando. Não fique se martirizando. Não fique se debatendo nem se corroendo como se o mundo tivesse acabado. Não fique se perguntando como foi que a garrafa caiu agora que o leite já derramou. Não se crucifique. Não se culpe. E principalmente, não jogue a lama do mundo pra dentro de você. Eu concordo que em algumas horas não é fácil ser racional. Concordo que se lembrar do passado é natural, acontece com todos nós. Infelizmente nossa mente não saiu de fábrica com um DEL para apagarmos todas as lembranças que não queremos ter. Mas assim como você e todas as outras pessoas que vem aqui, eu também tenho um passado - e é ele mesmo que me prova todos os dias que foi melhor assim.

É no presente que a vida existe. É no presente que a vida acontece. Hoje. Aqui. Agora. Essa é a melhor hora de sermos felizes.
Fiquem bem e se cuidem...
Beijos,
Deco.

quinta-feira, abril 02, 2009

:::::: O DIA EM QUE EU DESISTI DE CASAR ::::::

Um dia eu acreditei que ser feliz e amar alguém andavam juntos, colados um no outro. Um dia eu acreditei que a felicidade morava numa relação de amor, num romance tão belo e doce quanto àqueles que se vê no cinema. Eu cheguei a ter fé de que o pacote do adulto feliz ia muito além de ser bem sucedido profissionalmente, era ser bem casado, constituir uma família bonita e ter filhos pulando na minha cama domingo pela manhã. Afinal, por lógica, eu sou a prova, cada um de vocês é a prova de que isso existe – ou existiu algum dia nessa vida modernamente ordinária. Somos (a maioria de nós, acredito) frutos de um casamento tradicional, de uma relação de amor entre um homem e uma mulher.

Eu acreditei um dia. A modernidade escrota, vadia, vazia, pouco a pouco, mastigou até o caroço da minha fé. Não acredito mais e substancialmente, não entrego por mais nem um segundo minha felicidade nas mãos do meu estado afetivo. Sim, nos melhores dias da minha vida eu amava alguém e aqui, agora, na real, apenas uma em cada dez pessoas que eu conheço estão ou são casadas. Apenas um, em cada dez casamentos que eu conheço conseguiram a façanha de passar dos cinco anos de existência. Bodas? Só de papel, querida. Realmente, chegou a minha vez de admitir que dividir o mundo com outra pessoa é tarefa árdua e por demais, complicada. Encontrar a pessoa certa, no momento certo da sua vida depende de algum empenho e muita, mas muita sorte. Num mundo consumista e selvagemmente capitalista como o nosso, encontrar uma mulher guerreira que estará com você na champagne e na lama com a mesma disposição é semi-impossível. Descobrir alguém que tenha vontades semelhantes às suas, sonhos e desejos parecidos com os seus, idem. Achar a pessoa que respeite sua individualidade, que não seja doente de ciúmes e que não dependa seiscentos por cento de você, idem. Conhecer alguém que não reclame do seu cigarro e tome uma ou outra vodka com você ou que ao menos não te recrimine enquanto você bebe ou fuma um cigarro, idem também. Enfim, encontrar a pessoa com quem se tenha sintonia afinada, química, amor - e compreensão - e entendimento - e respeito - e fidelidade - e ternura - e cumplicidade - e paixão - e companheirismo - e carinho - e tesão, é quase a mega sena acumulada. Você ganhou? Administre seu prêmio cotidianamente! Pois aqui fora, a coisa está infinitamente feia.

Portanto, não sou mais quem rema contra a maré, deixa a maré levar... Cansei de vestir a camisa rebelde de contra mão do mundo. Cansei, mesmo. Sou gente e antes de amor, quero oxigênio, preciso demais respirar. Para aquelas pessoas as quais eu representava a esperança de um mundo melhor e mais bonito, vivam a vida, aproveitem a vida e boa sorte! Quero me demitir de carregar o vazio de sonhar o modernamente impossível. Vou sambar o samba dessa vida conforme ele tocar. Se um dia o amor chamar, se um dia a pessoa certa me achar e cruzar o meu caminho olhando nos meus olhos, talvez eu pague língua e acreditem: Eu desejo e espero pagar.

Se cuidem...
Beijos,
Deco.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

:::::::::::::::: QUÍMICA E NADA MAIS ::::::::::::::::

É... Não podemos negar o óbvio. Se apaixonar já foi bem mais fácil.

Em outros tempos, bastava certa beleza, digo uma pontinha de charme, nada dessa beleza perfeita que a mídia estampa em nossas caras como quem diz: “Corpinho desenhado, barriguinha zero, olho colorido e cabelo liso, é básico! Não seja feliz com menos que isso!”. Não, nesse tempo a mídia passava longe da gente, longe da nossa vida graciosa, bonita e inocente. Nesse tempo, até a mídia era mais digna e menos voraz, menos canibal. Longes do culto a perfeição, vivíamos nossas vidas com sonhos gratuitos e realidades ainda mais gratuitas e tangíveis. Bastava um olhar diferente, uma boca carnuda, um cheiro gostoso, um beijo interminável. Bastava um sorriso sincero, um olhar mais demorado, meia dúzia de confidências e um sexo bom. Pronto! Apaixonávamos. Mesmo. Perdidamente... Dispensando atestados de bons antecedentes, certificados de procedência, classe social definida. Vivíamos de química, de corpo arrepiado, de êxtase... Química e ponto. Paixão e reticências. Um dia foi assim.

Sim! Sentimos falta disso. Sentimos falta de disritmia cardíaca, de frio na barriga, de descompasso generalizado pelo corpo. Sentimos falta de ter a cabeça vazia e o coração lotado, coberto, transbordando sensações. Sentimos falta de escrever cartas, de comprar cartões na papelaria, de coisas muito simples. Sentimos falta de ficar no telefone pendurados por horas e mais horas. Sentimos falta de acordar e dormir pensando em alguém que não nos oferecia nenhuma vantagem ou posição socioeconômica favorável, apenas doses deliciosas de um sentimento intenso e verdadeiro. Sentimos falta daquela impulsividade adolescente - que nos deixava quase sempre - mais sempre que quase - apaixonados, completamente apaixonados uns pelos outros. Sentimos falta do tempo que nosso mundo era só emoção, onde nossos corações não tinham nenhuma razão - e na verdade tinham toda. Sentimos falta do tempo em que pode e não pode eram bem mais do que um quadro humorístico e ainda sim, com todas as regras, éramos felizes e não sabíamos.

O tempo passou... A vida passou... E levou pelos ares nossa adolescência, nossa inocência, nossa essência. Hoje os dias são menos coloridos, as noites mais frias e os domingos mais Faustão, infelizmente. Hoje a prática divorciou-se da teoria e na mesma intensidade em que o mundo inteiro quer alguém, nesse mesmo mundo inteiro ninguém é de ninguém. Contemporaneamente, inegavelmente, lamentavelmente, admitimos de braços cruzados e corações partidos que paixão seja apenas o nome de um óleo de amêndoas e o amor, bem, nem me fale. O tempo passou. O tempo levou. O tempo, o vilão inventado, o bicho papão da modernidade, comeu.

Estamos cada vez mais cientes do caos e distantes de atitudes que o tirem de cena. Cada vez mais informados e armados contra eu nem sei bem o quê. Cada vez mais chatos, inflexíveis, exigentes e impacientes. Cada vez mais racionais e convictos de que isso é realmente algo que se pode chamar de vida. Cada dia nos achando mais, nos maquiando mais, nos escondendo mais de nós mesmos e do mundo. Querendo, clamando, exigindo chão e em troca oferecendo o vento, o nada, coelhinho da páscoa, papai Noel. Hiperativos, super independentes, inteligentes e descolados, nessa modernidade que hasteia a bandeira da individualidade e do egoísmo – a mesma que segue semeando infelicidade.

Não, nós não queremos ser adolescentes. Queremos ser adultos e felizes, tudo bem? Queremos amar e ao longo do dia, ter o prazer de presenciar mais gestos de amor. Queremos uniões mais fortes, relações mais saudáveis, sinceras e fiéis. Queremos um mundo mais gentil e honesto. Queremos leveza, sintonia, cumplicidade e parceria. Queremos menos emails, menos mensagens e mais abraços apertados e mais, muito mais beijos na boca. Queremos enfim, escrever um texto assim e não pensar que estamos loucos nem que estamos pedindo muito. Queremos amar porque o amor é a nossa bandeira. Porque pra gente, o amor é básico.
Fiquem bem.
Beijos,
Deco.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

:::::::::::::::::::::::::: QUASE ::::::::::::::::::::::::::

por Sarah Westphal

Ainda pior que a convicção do “Não” e a incerteza do “Talvez”, é a desilusão de um Quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto! A resposta eu sei decór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance. Para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente a paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance!

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando; porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

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Ouvi esse texto ontem de uma pessoa muito especial e fiquei refletindo sobre o quanto ele é profundo e igualmente real. Sobre o quanto ele tem a ver com a nossa vida e com nossos cotidianos urgentes, loucos, totalmente alucinados.

Esse texto não apenas mais um texto genial que alguém teve o dom, a maestria de escrever com abundante sensibilidade. Não é meramente algo que você lê e que te pausa, e que te congela por alguns instantes como que propondo um pensar contínuo... Não. Para mim, ele vai se tornar uma espécie de oração. Algo que será lido todos os dias, todas as manhãs. Para que eu me lembre a cada dia desse ano novo e limpo, o quanto o quase é algo dispensável em nossas vidas. O quanto estamos certos quando pensamos que o mundo está carente de seres com atitudes e caras expostas. Para que eu me cerque de sensações e atitudes mais concretas e definidas. Para que eu tenha comigo a certeza desmedida de que quem quase é, não é. E que quem não é não vale o tempo, o olhar demorado, o beijo, o amor.

Fiquem bem e se cuidem.
Beijos,
Deco.