domingo, outubro 12, 2008

E-MUNDO

Hoje é mais uma tarde de sábado. Mais uma tarde, sentado na mesma cadeira, bebendo a mesma bebida, fumando o mesmo cigarro e olhando para a mesma vista bonita de sempre. A vida se repete. Eu me repito. Rotina não tem fuga, minha querida, é a vida cotidiana num ensaio geral com a própria vida. E elas contracenam, incessantemente, todo santo dia, durante vinte e quatro horas e minutos e segundos. Acha morno? Acha repetitivo? Não agüenta? Não dá conta? Melhor morrer.

Você não precisa me ler. Você não precisa mudar. Você não precisa agir. Você não precisa me ouvir, mas ouça o seu travesseiro... Am? É isso mesmo! Ouça o seu travesseiro! Aquele cheio de flocos, que sempre te espera sozinho, macio e frio em cima da cama todas as noites. Aquele de penas de ganso, que te traz no silêncio da madrugada, num sussurro breve e seco, todas as verdades inquietas e inteiras que você fingiu não ouvir lá na rua. Escute-o. Permita-o. Deixe-o derramar a realidade sem açúcar nos seus ouvidos um instante. Deixa de marra, vai... Não seja impulsiva. Não troque seu travesseiro cheiroso por uma conchinha meia boca no apagar das luzes. Você não precisa me ler. Você não precisa mudar. Você não precisa agir. Você não precisa me ouvir, mas acredite em mim. O seu travesseiro é seu amigo e o melhor e mais neutro conselheiro que você possui aí, bem do seu lado.

Não, meu bem, não é culpa de Deus, que ainda não me fez trombar de cara com a mulher da minha vida. Não é culpa dessa sociedade, que se mostra cada vez menos atraente e mais hipócrita e suja. Não é culpa do meu travesseiro também não, viu? Essa culpa, que talvez não seja culpa nenhuma (tantos vêem como evolução), é livre de um culpado único, singular. É uma culpa sem cara, sem dono, sem lastro. É uma culpa pulverizada e generalizada demais... É culpa de quem agiu errado e de quem, mesmo sabendo, deixou agir. De quem foi aonde não devia e de quem foi junto também. De quem começou esse lance e de todos aqueles que o seguiram - que aceitaram que assim, desse jeito fácil, oco e mórbido estava bom, era prático. A culpa é minha. A culpa é sua. A culpa é de todos nós. Você carrega a sua? Você convive com ela? Eu carrego a minha e se você deseja mesmo saber, se você realmente se interessa por isso, ela mora num coração que amou duas vezes e que se viciou no amor. Ela mora num coração que fez do amor a sua cocaína, seu alimento, seu oxigênio básico de cada dia. Um coração viciado e insistente que amou e que voltou a amar - e que ama - e que segue querendo amar mais e mais e mais. Um coração que mora dentro desse cara que aqui escreve, um ser meio doidinho que não entende o mundo moderno e que, definidamente, não combina com ele.

Por que a insensibilidade tomou conta do mundo? Por que tudo é sempre frio e estranho? Por que o dizer é clichê e o ser artificial? Por que tudo vira festa, vira divertido, vira eletrônico e digital? Por que todo mundo diz que quer alguém, mas ao mesmo tempo age assim, tão cheio de pose, tão cheio de máscaras, tão maquiado? Por quê? Por quê? Por quê? Mil e nove vezes... Por quê? Alguém me diz. Alguém me fala alguma coisa mais ou menos substancial. Ei! Você! Alguém aí do outro lado, solte um discurso menos pensado, menos pronto, menos Mc Donald’s por favor. Porque eu não tenho a resposta para nada não. Não encha de perguntas a minha caixa postal... Eu não sou mais nem menos do que ninguém nesse planeta - e não tenho a cura para dor do mundo que mora em mim também. Eu quero saber, assim como vocês, da mesma forma, do mesmo jeito e com a mesma urgência. Como que cura isso? Como que faz para parar de latejar? Como que faz para não questionar o que está aí, totalmente contrário ao que pensamos e sentimos? Me conta aí você que sabe... Me conta aí você que tem uma resposta digna, não uma droga barata para me oferecer. E não me venha com aquele papo ultrapassado de duelo dos sexos, de machismo x feminismo. Não venha me dizer que o caos existe porque a mulher tornou-se independente. Não diga que é porque nos dias de hoje tudo é muito vulgar. Não venha me contar que tudo se tornou fácil e sem cor e sem valor e sem amor. Eu quero novidade! Aquilo que eu ainda não sei. Traz o novo aqui pra mim, vai. Traga uma resposta mais aceitável para que eu possa enfim entender e aceitar que o mundo é esse aí mesmo e que o ser humano e os sentimentos, são de fato esse lixo perfumado que segue aparecendo em mini-micro-roupas-sei-lá-de-onde, todos os dias, todas as tardes e todas as noites.

Obrigado, eu agradeço. Não quero isso pra mim não. Procure um menino, um playboy, um ser não pensante e nem aí pra vida como você. Iguale-se querida. Eu não tenho mais vinte e poucos anos e tampouco não estou nem aí pra nada. Eu estou aí sim, entende? Eu estou aí! Eu estou aqui! E pode continuar difícil... Pode piorar... Pode parecer até impossível... Podem se repetir zilhões sábados como este... Eu não desisto dos meus sonhos. Seguirei derramando num papel inocente as coisas que extrapolam o meu ser. As coisas que não cabem aqui dentro e que talvez, digo muito provavelmente, nunca irão caber. E se você disser que eu estou condenado, que estou fadado a viver nesse conflito que bem parece um motorzinho de dentista, pode anotar aí na sua agenda: Eu viverei.
Vou me recusar até a morte de ser quem eu não sou. Vou me negar até o último dia da minha vida a retroceder. A voltar a ser aquele babaca que achava que era alguém se divertindo à custa do sofrimento dos outros. A voltar a ser aquele projeto de ser humano que semeava ilusões a cada beijo fútil e sem graça. A voltar a dar “end” nas pessoas que me ligam e me achar um cara muito requisitado por isso. A voltar a mentir, a enganar, a esconder o que está aqui dentro gritando pra sair, apenas por capricho de ego, apenas para não me expor... Eu me exponho mesmo! E se você não gostou e se você não está gostando, aqui, agora, lendo? Que deus te ilumine muito! Siga sua vida, suas crenças e seu caminho.

Eu quero mesmo é que se foda o controle. Que se foda a certeza. Que se foda a moda, a posse e o domínio. Que se foda o ciúme doentio. Que se foda também essa coisa largada, descompromissada, livre demais. Quero mesmo, cada dia mais, que se fodam todas essas regrinhas pré-fabricadas desse mundo e-mundo. O meu jogo é não jogar. E se assim eu perder, se lá no fim da estrada eu for minha própria companhia, terei orgulho demais. Eu conheci o amor, sei o que é amar e me sinto, verdadeiramente, privilegiado e abençoado por isso.

Fiquem bem e se cuidem.
Beijos,
Deco.

psiu: Atendendo aos pedidos que venho recebendo há algum tempo por email solicitando que eu permitisse a vocês cópias dos meus textos, tudo bem, vocês venceram. Está liberado. Eu desabilitei o sistema que impedia o mouse de selecionar e copiar os textos. Sou favorável a liberdade desde que ela não se transforme em plágio. Portanto, podem colocar no orkut, em outros blogs, enfim, aonde vocês quiserem. Cada um sabe o que faz... Ao clicar com o botão direito do mouse não aparecerá mais a mensagem TODOS OS DIREITOS RESERVADOS o que também não significa que de fato eles não estejam.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Feche seus ouvidos...

Existem coisas que só o coração pode escutar.

Isso é bonito demais!