quinta-feira, fevereiro 24, 2011

AO MENOS, SAUDADE!



Quando olho para trás, sempre que olho para trás e me deparo com um tempo que já passou, tudo que sinto se resume em uma dose estúpida de saudade. Saudade da infância, dos tempos de colégio, da turma lá da rua que se divertia sem qualquer tipo de tecnologia. Saudade de ser puro, de escrever cartas e bilhetinhos quando estava apaixonado… Saudade de ficar apaixonado. Saudade das bagunças e das diversas descobertas. Saudade de não ter que pensar em nada tão importante todas as noites antes de dormir. Saudade de sentir sem cálculos, de amar sem medo, de ser gente enfim.


Acredito que vivemos um tempo que não deixará muita saudade para a maioria de nós. Não escuto as pessoas da nossa geração falarem de seus cotidianos com os olhos brilhando, alguém escuta? Não sinto as pessoas felizes e satisfeitas com a vida que levam e aquilo que carregam no bolso e no coração, alguém sente? Sinto que paira no ar uma sensação coletiva de ausência, da falta estúpida de encontros e sentimentos que troque o vazio pela felicidade. Sinto que há uma certa rebeldia e muita insatisfação pelo simples fato de a vida não ser perfeita e completa, de não termos ao alcance de nossas mãos aquilo que supomos merecer. O que escuto e muito de gente de todas as tribos que vocês puderem imaginar é sempre a mesma coisa; Uma lista infinita de reclamações e carências... Que vão do alto preço que pagamos para viver essa vida moderna e fútil, aos inúmeros casos de angústia, baixa estima, depressão e fracassos afetivos. O que escuto, vejo e sinto me faz ter muita saudade do que já passou.


É culpa da mídia, que invade nossas casas diariamente afirmando que a felicidade vem de carona na aquisição de uma TV de LCD? É culpa desse liberalismo afetivo, que nos apresentou um jeito fácil, sem valor e compromisso de beijar na boca e fazer sexo? É culpa da internet, que trocou nossas cartas por emails? É culpa do Orkut, do Msn, do Facebook, que são sucesso no mundo as custas de nossa carência afetiva, de nossos dias urgentes e despidos de tempo para um abraço, um beijo, uma prosa demorada? Talvez… Difícil apontar o culpado para um crime num cenário onde nós mesmos, somos cúmplices interativos de cada um dos suspeitos acima.


Entre tanta modernidade e tanta "evolução" falta mesmo alguma coisa essencial, isso não é nenhuma novidade. Faltam mesmo tantas e tantas coisas, conceitos, sentimentos e valores essenciais para nós e claro, para os nossos pais, que assistem perplexos o existir de um mundo tão artificial, infeliz e diferente daquele que viveram. Falta sim. Falta mesmo. Sinto na pele e acredito que a maior parte de vocês também sintam, não é mesmo? Mas sejamos realistas, aquele tempo não vai voltar. O mundo não tem ré, nós também não. Somos a geração que nasceu inovando, derrubando velhos conceitos e inventando novas maneiras de existir. Isso é irreversível. Portanto, a questão não é aonde chegamos e sim como será daqui pra frente.


O que será de nossos irmãos mais novos? O que será de nossos filhos, sobrinhos e afilhados? Como equilibrar o ontem com o hoje e ser feliz - e amar - e acreditar que a felicidade mora em coisas verdadeiramente simples. Como constituir uma família unida e bonita, se nas famílias atuais impera tanto egoísmo, inveja e interesse material entre gente do mesmo sangue. Como viver um amor verdadeiro nesse cenário de tantas opções e zero sentimento, entrega e ternura. Como construir uma relação a dois entre tanta individualidade e futilidade? Como unir a mulher moderna, que não tolera mais aquele machismo escroto - ao homem moderno, que também não tolera esse feminismo igualmente escroto?


É complicado demais… É contradição demais, As pessoas pagam de modernas, descoladas e felizes, mas no fundo desejam um amor. Dizem com certo ar superior que suas posturas avulsas e frias são a garantia de uma vida feliz, mas se derramam em seus travesseiros angustiadas. Na verdade, a grande maioria das pessoas não deseja um amor.... O que elas desejam é comodidade. Um amor faz de conta para suprir a carência ocasional por não suportarem um domingo sequer em suas próprias companhias. Como pensar em amor entre gente que se esquece que amor é admiração mútua, luta, diálogo e amizade? Como achar uma saída afetiva menos abissal para nós, se desconhecemos que o amor é um sentimento simples e pacífico batendo feliz dentro do peito e que ainda assim, não oferece qualquer garantia?


Sigo sem saber. Seguimos sem saber.


Fiquem bem.

Beijos,

Deco.