sexta-feira, setembro 10, 2010

ENSAIO SOBRE O SILENCIO


Shhh... Silêncio.

Essa é a história de um cara que num momento extenso de sua vida, que durante um longo instante no tempo se incomodou com o silêncio de maneira absurda, que fez do silêncio um quase inimigo. Não, você errou a aposta... Isso não se deu durante uma crise adolescente com compulsiva obsessão por barulho, música alta ou conversa fiada. Essa é a história de alguém que extraia ou que sabia extrair do silêncio apenas a sensação de ausência, frio, solidão e vazio. Como se naquele momento, como se naquele buraco de som faltasse algo a sua volta... Sozinho, a dois, repleto de amigos ou na melhor festa da cidade... Lá estava o silêncio, o mute da vida real... Calado. Gelado. Seguro. Triste como se as palavras fossem mesmo algo indispensável - e não são.

Ano vinha, ano ia e a cada oportunidade em que o silencio imperava a sensação era mesma... Ausência. Vazio. Falta. Mas de quê especificamente, você vai questionar... Um beijo demorado? Um mundo melhor? Frases mais inteligentes? Gente mais gente? Amor? Não. Apesar das perguntas aí de cima serem todas pertinentes e representarem carências da modernidade, não. A falta que ele sentia de forma tão intensa era muito simples e ele não se tocava... A falta era de ouvir o que silêncio dizia sem dizer uma palavra sequer. A falta era de calar e deixar calar... A falta era de ouvir ao invés de falar. A falta era de sensibilidade mesmo, de não sintonia com o que o silêncio queria dizer e dizia - sempre.

Essa é a história de um cara que odiou o silêncio por boa parte de sua vida e que em tempo, aprendeu a amá-lo. A história de quem aprendeu no vazio que o silêncio fala tão alto quanto a voz de um tenor. Em alto e bom tom, tem o som da indiferença, da sabedoria, de palavras que dispensam ser ditas. Traz silencioso como si, chão de sentimento e reflexão. Enche de verdade o mais sincero e verdadeiro gesto que esse cara já conheceu, o olhar. O olhar de quem se detesta, de quem se ama, de quem se entrega por inteiro quando alguém acerta o seu coração.

Não desconfie do silêncio. Escute-o... Respeite-o. A sua falta de som na maioria das vezes quer dizer o que você devia ouvir enquanto fazia barulho - e não ouviu... O que você queria sentir enquanto falava continuamente - e não sentiu. O brilho entregue nos olhos, único, que chama o arrepio pelo nome e que apenas se vê quando se cala.

Fiquem bem, se cuidem e me desculpem a ausência.
Beijos,
Deco.