sexta-feira, julho 31, 2009

O RETORNO

Eu, a casa grande e a loja bonita de carros.

A maioria das pessoas que passaram pela minha vida nos últimos quatro anos e meio, me associou assim, em trio. No capitalismo selvagem a gente não consegue, por mais que tenha conteúdo no peito e na cabeça, se desvincular de alguns rótulos. Fazer o quê? Assim, naturalmente, para essas mesmas pessoas, penso que me tornei como a capa de um antigo vinil... Formatado. Rotulado. Impresso. Quem é aquele? É o menino da vida perfeita. É o menino que mora no paraíso. É o menino, que ninguém conhece e que mesmo assim todos julgam deliberadamente. É o dono da melhor concessionária da cidade. É o filho do fulano de tal... Coisas de interior, tititi infinito enfim. Ninguém nunca me perguntou como é a minha vida. Ninguém nunca quis saber se eu estava bem ou ao menos como andava meu coração de canceriano. As pessoas, as pobres pessoas, sempre pensaram na vida perfeita que eles imaginavam que eu levava, do jeito perfeito que eles sonhavam que eu levava e ponto. Isso os alimentou. Isso os alimenta.

Eu, a casa grande e a loja bonita de carros.

Eu não tenho porque mentir, ok? Amo conforto! Adoro qualidade e venero coisa boa, quem não gosta? Venero. Adoro. Amo. Mas desde pequeno eu trabalho demais, viu? Conforto não é de graça, qualidade não cai do céu e eu não sou um filhinho de papai! Mesmo assim, com todos os privilégios que Deus me deu, eu raramente nadei naquela piscina. Eu nunca tomei sauna a noite depois de um dia estressante de trabalho. Eu nunca fiz festinhas com um coletivo de beldades nuas a minha espera na piscina. Na verdade ácida e cotidiana que nunca foge de nós, eu nunca usei sequer um terço daquele espaço maravilhoso. Eu nunca vivi a vida que as pessoas imaginaram que eu vivia. Nunca. Essa vida só existiu e apenas existiu na fantasia, na ilusão da micro-mini-cabeçinha delas. E o que parece perfeito, a vida dos sonhos a tantos e tantos olhos, definitivamente, não é.

Eu, a casa grande e a loja bonita de carros.

Está tudo pronto aí? Está tudo certo? Então não tenha medo... Vem aqui e senta na minha cadeira um pouquinho. Brinque de ser André Toledo e viva a minha vida por um mês antes de me julgar o menino da vida perfeita. Ah você não quer? Então silêncio! Porque pouquíssimas pessoas que eu conheço, suportariam um mísero diazinho senão estivessem mesmo muito obstinadas e dispostas ao crescimento pessoal e financeiro. Fico impressionado, gente. As pessoas focam tanto a matéria, tanto o capital, que se esquecem de que você é humano e tem um coração dentro do peito. Ninguém sabe é de nada, sabia? Ninguém teve peito para pagar o preço que paguei e fica aí falando merda. Ninguém vai saber como foram as minhas noites e meus dias. Ninguém. Ninguém vai entender os porquês da minha volta e da minha atitude. para eles, tão repentina. Mas tudo bem, eu não quero mesmo o entendimento de ninguém. Nem pena. Nem complacência. Nem apoio. Eu quero a felicidade simples que mora em coisas pequenas, mas tão pequenas, que a maioria das pessoas que vivem no que chamamos de mundo, sequer vê. Portanto, antes, bem antes de julgar... Vai lá, filho! Trabalhe doze horas todos os dias. Trabalhe sábado, domingo e feriado de carnaval. Vai lá viver a vida perfeita e depois, se você agüentar o batente, você volta e me conta, combinado?

Eu, a casa grande e a loja bonita de carros.

Acreditem em mim, aliás, mais que isso... Imprimam o que vou lhes dizer num lugar em que vocês possam ler todos os dias. A nossa felicidade não mora numa vida perfeita. Vida perfeita é utopia surreal. A nossa felicidade não está em paredes de granito e nem incubada atrás de muros de quinze metros de altura ou na piscina olímpica que brilha com sol. A felicidade é completamente desplugada de qualquer matéria. E isso não é um discursinho socialista anti-grana, anti-matéria não. Isso é apenas alguém dizendo que isso não é tudo. Parece bonito. Parece bacana. Parece feliz. Parece perfeito, mas não é. E desse não ser, eu bem conheço... É o famoso lado B da história. O lado que todos enxergam, mas que ninguém quer ver. É a contra mão de um formatinho social pré-fabricado na cabeça da maioria. E é por isso, exatamente por estar no limite desse lado B que eu estou voltando para Belo Horizonte. Valeu a pena o tempo fora? Valeu muito! Valeu demais, não vou negar. Não me arrependo de uma vírgula da minha vinda e de nada que ficou para trás, mas minhas asas estão querendo vento e não comodidade, felicidade e não status – e é isso, exatamente isso que eu vou buscar,

Que Deus ilumine esta nova trilha da minha vida. Esse novo capítulo da minha história
E ilumine também a vida de cada um de vocês, que sempre são tão carinhosas comigo.
Vocês são muito especiais na minha vida, não tenham dúvidas, podem acreditar!

Fiquem bem e se cuidem...
Beijos,
Deco.

PS: Dei uma repaginada no visual da casa. Agora nos links tem SEGUIDORES e TWITTER, onde vocês podem ser informadas das atualizações do blog e também de idéias curtas que hora ou outra aparecem na minha cabeça. Espero que gostem e que muito em breve eu possa voltar a postar com mais freqüência, gosto muito desse lugar. Obrigado pelo carinho e vale dizer... Esse blog só existe porque é coletivo, porque é nosso e sempre vai ser.

sexta-feira, julho 17, 2009

LA TRAVESSIA


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa)
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Próximo de mais um aniversário e de mais uma travessia, não tenho dúvidas, o mundo que eu gosto, os gestos que eu admiro, não existem mais... E esse cenário cinza, essa maneira doente que o mundo se mostra, não combina em nada comigo. Que Deus me abençoe e me dê muita saúde e amor, é apenas o que eu preciso.

Fiquem bem.
Beijos,
Deco.