sexta-feira, junho 01, 2007

MURAL DE SENTIMENTOS



“Um homem se devaneia por instantes de sua essência, devaneia, mas não permanece. Essência é eternidade.” (Deco)

Confesso. Na adolescência, tive uma dificuldade absurda para lidar com meu coração de canceriano. Não conseguia levar meu lado afetivo na mesma balada despretensiosa que meus amigos. Não admitia simplificar meus sentimentos de forma racional e objetiva, como as outras pessoas faziam com extrema facilidade. Eu queira mais. Queria e buscava de uma maneira louca e incessante paixões impossíveis, semi-platônicas, que me atordoavam de certa maneira, mas que também me faziam transcender. Que me dilaceravam os sentidos, mas que também que guiavam a um mundo encantado. Que me ilhavam na terra do nunca, mas que também me levavam a um patamar mais intenso, sensível e bonito. Sabe ouvir música e ficar viajando na pessoa? Sabe sentir apertinho no peito? Sabe aquela expectativa monstruosa e multiplicadora, que consegue mexer com você por inteiro? Sabe aquele sentimento que não cabe dentro do peito? Que tira a fome, o sono, o compasso e o chão? Sim, todos sabem. Eis o meu vicio. Eis a minha perdição.

Em pleno começo da era do ficar, eu insisti em histórias de amor, em romance e poesia. Insisti e me fodi, mesmo, literal e infinitamente. Não por ser atemporal, sempre fui mesmo de seguir meu leme e não a maré, mas esse comportamento romântico, sensível e sincero não tinha valor, aliás, sejamos realistas, não tem até hoje. O ser humano quer o errado, o difícil, o impossível custe o que custar. Logo, imaginem... O resultado é óbvio, eu não fui o garanhão do colégio, da rua ou do prédio, pouquíssimas dessas paixões da adolescência foram vividas com a reciprocidade e intensidade que mereciam. Vi as meninas mais lindas, doces e fofas perdidamente apaixonadas pelos cabeludos mais podres e vazios. Vi chiliques e lágrimas, vi olhares e suspiros. Assisti os caras mais filhos da puta se darem bem e na contra mão do coração, já me odiando e sem qualquer resistência, concluí: Serei um deles. Cansei de ficar contando algodão no vento. Cansei de ficar sonhando com quem nem sabe que eu existo. Cansei de ficar viajando num telefonema que não vai chegar. Cansei de ser o cara perfeito na cabeça da mãe delas. Ser G.F.D.P (Galinha Filho da Puta) é pré-requisito para se dar bem? Eu serei um e fui.

No começo tudo é festa. Devolvi dobrado com taxas, juros e juras, sonho por sonho, decepção por decepção, lágrima por lágrima que eu chorei. Eu me diverti horrores e fiz hora com a cara de muita gente, inclusive com aquelas que tinham feito hora com a minha. Namorei três ao mesmo tempo, peguei cinco na mesma na noite. Dei bolo de todas as formas, de todos os sabores e cores, com as desculpas mais descaradas e esfarrapadas do planeta. E todas caíram. E todas apaixonaram. E todas ficaram iguais um chiclete na minha cola, me seguindo, me ligando, mandando cafés da manhã, presentinhos e não sei mais o que. Encontrei então, na falsidade, na contra essência, no joguinho mascarado, o jeito de ser cobiçado. Fórmula mais louca, não? Sim, fórmula louca e estúpida. Você é mal e elas gostam. Você é filho da puta e elas amam. Pelo amor de deus! Que jeito mais escroto de se relacionar. Tudo bem, vá lá que é divertido, faz bem pro ego, pra imagem e pra auto estima. Mas e aí caramba? E o amor? E o vazio que dá no domingo à noite? E a preguiça que dá ter quinhentos e quarenta nomes na agenda e zero vontade de ligar? Eu tenho o baralho na palma da mão, a mesa pronta a meu favor, mas não quero dar as cartas não. Não to afim. Cansei do jogo. Cansei de ser quem eu não sou. Definitivamente, não nasci pra isso. Prefiro contar algodão no vento, prefiro sofrer, prefiro qualquer coisa a ter que fabricar um falso André.

Em outras palavras, adolescente, jovem, adulto ou velho, o que eu sei é sentir. Sentir do jeito que o amor pede pra ser sentido, sem medida, sem rótulo, sem dupla intenção. Eu sei sentir, mas não sei esperar e nem fingir. Eu sei sentir, mas não sei jogar. Eu sei jogar, mas eu quero sentir. Eu sei sentir, mas não sei concordar de que o mundo é esse mesmo, de que devemos nos conformar e que amor é nada mais nada menos que um atraso de vida, caretice e retroação em tempos tão modernos. Um homem se devaneia por instantes de sua essência, devaneia, mas não permanece. Essência é eternidade e a minha essência é o Amor.

Fiquem na paz e se cuidem...
Beijos,
Deco.