quinta-feira, junho 12, 2008

Doze


Ficar ou não Ficar?

Nasceu no começo dos anos 90 o que anos mais tarde se tornaria a maior quebra de paradigma das relações afetivas: Ficar.

Fica daqui, fica de lá e logo se ditou que não seria mais preciso conhecer a fundo uma pessoa para beijá-la, alias, mal seria necessário conhecê-la. Ficou acertado que poderíamos a partir de então dar adeus aquele teatro mega babaca de namorar na sala, de ter que conhecer pai e mãe, tia, avó e cachorro antes de um simples beijo. É! Eu concordo. Ficar revolucionou, rebelou, derrubou conceitos sócio-familiares pregados há décadas e desmistificou a fundo a relação a dois. Mas ficar também tornou simples demais o que está longe de ser tão simples assim. Estar com alguém por uma noite ou por alguns minutos é um encontro, e por mais descolado, liberal ou retrógrado que você seja neste encontro existe troca e claro, expectativas também.

Ficar é multi-experimentar. É viver livre pelas baladas exercendo a liberdade ao extremo. Beija uma aqui, beija outra ali e a amiga da outra lá, sem compromisso, sem satisfações e dia seguinte. Ficar é isso. Ficar é aquilo. Ficar é tudo de bom. Mas ficar é também abraçar o vazio, um vazio provocado pela descontinuidade simples, pela nítida ausência de um sentimento maior no envolvimento de duas pessoas. Culpa da modernidade? Culpa da globalização? Culpa do consumismo? Talvez sim, ficar nos tornou objeto do desejo alheio, como a bolsa da vitrine ou tênis da moda; Olhou, gostou, beijou, ficou... Com uma, com outra e com tantas outras... Até que um dia descobrimos que isso é bem menos saudável e gostoso quanto parece.

Depois de beijarmos 1.032 bocas diferentes, o sabor do beijo não é mais o mesmo. Já não sabemos nem mesmo qual é o nosso beijo. Vem a sensação de mesmice e repetição. De vazio e solidão. Depois de transarmos quase por esporte, por mera química ou tesão, o prazer da descoberta, da conquista e do gostinho bom de quero mais não tem a mesma intensidade. Ao fim de tudo e depois de tantas aventuras “amorosexuais”, estamos sozinhos. Sem colo e sem chão. Sem “Bom Dia” e “Boa Noite”.

Ficamos, ficamos e ficamos para quê? Para depois questionarmos a solidão na base do chega logo amor. Tantos nomes, tantos números na agenda do celular e um ninguém para chamarmos de meu bem. Não quero pregar o retorno dos conceitos e valores que já se foram, mas cabe a nossa geração, ontem precursora, hoje vítima do liberalismo afetivo, refletir e conscientizar-se do explícito, do evidente, do humano: Queremos mesmo é amar.
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Esse texto foi escrito e postado em março de 2004 num outro blog que eu tinha naquela época. Resolvi trazê-lo de volta hoje, dia dos namorados, com pequenas alterações. Hoje é o dia dos namorados, apenas mais uma datinha comercial. O mundo mudou... E nós nos fudemos.

Aos namorados apaixonados, Feliz Dia dos Namorados! Amem-se, beijem-se, adorem-se e contemplem-se diariamente. Esqueçam os presentes, o melhor está dentro de cada um. Aos solteiros, calma, paciência e amor próprio até a tampa.
Fiquem bem...
Beijos,
Deco.