quinta-feira, fevereiro 01, 2007

ROTEIRO ORIGINAL



Gravando!

Acordar. Tomar banho. Trabalhar. Trabalhar. Voltar para casa. Tomar banho. Dormir...

Ao novo amanhecer, cena por cena, a vida se repete. Nem sempre tão mecânica e não necessariamente nessa mesma ordem, mas é assim na maioria dos dias, foi assim na maioria dos meses dos últimos dez anos da minha vida. Então eu penso que isso tudo aconteceu e acontece e continuará acontecendo tão repetidamente por causa da minha sede de um futuro melhor. Carrego comigo desde cedo à convicção de que é preciso ser independente custe o que custar, seja trabalho, suor ou privação. Odeio depender das pessoas... Odeiooooooo! Essa coisa de ficar a deriva, de sujeitar-se, de encaixar-se, de ser espectador ao invés de ator da própria vida e de ter que concordar com tudo mesmo não concordando com nada, definitivamente, não é comigo. Então por mais louco e alienado ao trabalho que eu pareça, por mais cansativo que seja e por mais errado que as pessoas e outrora, eu mesmo ache, trabalho minha cabeça, meu bolso, minhas atitudes, meu coração e o que me cerca visando o amanhã. Planto meus olhos num dia que não chegou e que ninguém me garante que vai chegar... Eis a minha loucura. Talvez por isso eu seja tão questionado pelas pessoas. Porque ignoro a máxima de viver essa noite como a última, o hoje, o agora, esse exato minuto no qual eu escrevo. Ignoro mas consigo sentir, consigo ser intenso de forma tão ou mais leal que aqueles que vivem segundo por segundo... Ignoro, penso, sinto, insisto... A vida não é tão curta assim, não mesmo. Ela é rápida e isso é outra coisa. É rápida, mas pode ser longa e feliz se soubermos levá-la, se soubermos identificar e cultivar nossas pequenas felicidades.

Eu sei, a minha rotina parece sem graça... Todas parecem. Todas são. Que diferença faz? Você pode ver a vida dos outros e pelos seus olhos imaginar que é chato, fácil, triste ou divertido, não importa. A vida dos outros nunca é como a gente imagina, nunca. Tenho na ponta da língua uns cinqüenta exemplos de casca perfeita e realidade dramática... Parece que é lindo. Parece que é bacana. Parece que é feliz. Parece que é amado. Parece que é gostoso ser aquela pessoa, mas não é. Gostoso é ser você mesmo sempre! Eu poderia ter aceitado o convite do meu xará dos tempos de colégio e ter mudado para Itália para fazer design, lá está ele desenhando num dos estúdios mais conceituados do mundo, cá estou eu com a minha empresa. Eu poderia ter sido instrutor de pára-quedismo, piloto de kart ou poderia ter seguido qualquer um dos tantos caminhos diferentes que me apareceram. Sim, eu poderia. Mas mudar o rumo da vida não é tão simples quanto desejar a mudança, todo projeto, seja ele qual for, demanda tempo e trabalho árduo para dar certo, dia após dia, ano após ano, sem parar.

Então por mais que o mundo soe gigante, com oportunidades infinitas e propostas aparentemente fantásticas... Por mais que a gente se seduza com esse convite aberto à ilusão: "Fuja da Rotina! O mundo é seu...". É impossível vivenciar novas coisas todos os dias, a vida é feita de escolhas e temos que fazê-las de um jeito ou de outro, cedo ou tarde e por mais terrível, sufocante e morna que a rotina possa ser, ela faz tão parte da vida quanto nós mesmos.

Parece estranho julgar sua rotina uma vez que sua vida é um roteiro original escrito por você mesmo e mais estranho ainda ver que você, o próprio autor da história, ora ou outra, se enjoa absurdamente dela. Dá vontade de sumir. Dá vontade de mudar tudo. Dá vontade de apagar vinte e nove páginas e começar do zero. Dá vontade de radicalizar. Dá sim, dá mesmo! Mas você não é mais um menino impulsivo e sabe bem que toda novidade, toda surpresa, todo sabor da melhor descoberta dura um tempo enquanto tal e para frente, tempo mais, tempo menos, deságua em rotina outra vez.

Fiquem na paz e no amor.
Beijos,
Deco.


*: Deixo aqui registrado meu luto em homenagem a Sidney Sheldon, um dos maiores e mais geniais escritores que já li.