terça-feira, agosto 08, 2006

FICAR OU NÃO FICAR

Nasceu no começo dos anos 90, pelos arredores mundanos o que anos mais tarde se tornaria a maior quebra de paradigma das relações afetivas, ficar. Fica daqui, fica de lá e logo se ditou que não seria mais preciso conhecer a fundo uma pessoa para beijá-la, que poderíamos tranqüilamente dar adeus a todo aquele ?teatro? de namorar na sala, conhecer Pai, Mãe, Tia e Avó. Ficar revolucionou, derrubou conceitos sócio-familiares pregados há décadas, desmistificou a relação a dois. Mas tornou simples demais o que na verdade é um tanto complexo... Estar com alguém por uma noite ou por alguns minutos é um encontro, e por mais descolado, liberal ou retrógrado que você seja este encontro te absorve de alguma forma, sempre existem expectativas em torno dele. Ficar é multiexperimentar... Viver livre pelas baladas exercendo a liberdade ao extremo. É beijar uma daqui, outra dali e a amiga da outra acolá, sem compromisso, sem satisfações e sem dia seguinte. Mas ficar é também encontrar o vazio, um vazio provocado pela descontinuidade, pela ausência de um crescimento emocional. Culpa da modernidade? Talvez sim, ficar nos tornou objeto do anseio alheio, como a bolsa da vitrine ou tênis da moda; Olhou, gostou, beijou, ficou... Seguimos esse usual mútuo até descobrirmos que isso não é tão saudável e simples quanto parece... Depois de beijarmos 1001 bocas diferentes, de transar com outros tantos e de nos emocionarmos com tantas aventuras ?amorosexuais? fica fácil concluir: Estamos sozinhos, sem colo e carinho, sem ?Bom Dia? e ?Boa Noite?. Ficar é agir por instinto, se envolver num impulso alheio as afinidades necessárias à relação. Questionamos a solidão na base do chega logo paixão, pela urgência, pelo desespero emocional que toma conta de nós, mas esquecemos de um fato importante: O amor é algo bem mais profundo, que exige muito além de uma noite. Seria eu o último dos homens a pregar o retorno dos conceitos e valores do passado, mas cabe a nossa geração, ontem percussora, hoje vítima do liberalismo afetivo, refletir e se conscientizar do explícito: Queremos mesmo é amar.

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