sexta-feira, fevereiro 20, 2009

:::::::::::::::: QUÍMICA E NADA MAIS ::::::::::::::::

É... Não podemos negar o óbvio. Se apaixonar já foi bem mais fácil.

Em outros tempos, bastava certa beleza, digo uma pontinha de charme, nada dessa beleza perfeita que a mídia estampa em nossas caras como quem diz: “Corpinho desenhado, barriguinha zero, olho colorido e cabelo liso, é básico! Não seja feliz com menos que isso!”. Não, nesse tempo a mídia passava longe da gente, longe da nossa vida graciosa, bonita e inocente. Nesse tempo, até a mídia era mais digna e menos voraz, menos canibal. Longes do culto a perfeição, vivíamos nossas vidas com sonhos gratuitos e realidades ainda mais gratuitas e tangíveis. Bastava um olhar diferente, uma boca carnuda, um cheiro gostoso, um beijo interminável. Bastava um sorriso sincero, um olhar mais demorado, meia dúzia de confidências e um sexo bom. Pronto! Apaixonávamos. Mesmo. Perdidamente... Dispensando atestados de bons antecedentes, certificados de procedência, classe social definida. Vivíamos de química, de corpo arrepiado, de êxtase... Química e ponto. Paixão e reticências. Um dia foi assim.

Sim! Sentimos falta disso. Sentimos falta de disritmia cardíaca, de frio na barriga, de descompasso generalizado pelo corpo. Sentimos falta de ter a cabeça vazia e o coração lotado, coberto, transbordando sensações. Sentimos falta de escrever cartas, de comprar cartões na papelaria, de coisas muito simples. Sentimos falta de ficar no telefone pendurados por horas e mais horas. Sentimos falta de acordar e dormir pensando em alguém que não nos oferecia nenhuma vantagem ou posição socioeconômica favorável, apenas doses deliciosas de um sentimento intenso e verdadeiro. Sentimos falta daquela impulsividade adolescente - que nos deixava quase sempre - mais sempre que quase - apaixonados, completamente apaixonados uns pelos outros. Sentimos falta do tempo que nosso mundo era só emoção, onde nossos corações não tinham nenhuma razão - e na verdade tinham toda. Sentimos falta do tempo em que pode e não pode eram bem mais do que um quadro humorístico e ainda sim, com todas as regras, éramos felizes e não sabíamos.

O tempo passou... A vida passou... E levou pelos ares nossa adolescência, nossa inocência, nossa essência. Hoje os dias são menos coloridos, as noites mais frias e os domingos mais Faustão, infelizmente. Hoje a prática divorciou-se da teoria e na mesma intensidade em que o mundo inteiro quer alguém, nesse mesmo mundo inteiro ninguém é de ninguém. Contemporaneamente, inegavelmente, lamentavelmente, admitimos de braços cruzados e corações partidos que paixão seja apenas o nome de um óleo de amêndoas e o amor, bem, nem me fale. O tempo passou. O tempo levou. O tempo, o vilão inventado, o bicho papão da modernidade, comeu.

Estamos cada vez mais cientes do caos e distantes de atitudes que o tirem de cena. Cada vez mais informados e armados contra eu nem sei bem o quê. Cada vez mais chatos, inflexíveis, exigentes e impacientes. Cada vez mais racionais e convictos de que isso é realmente algo que se pode chamar de vida. Cada dia nos achando mais, nos maquiando mais, nos escondendo mais de nós mesmos e do mundo. Querendo, clamando, exigindo chão e em troca oferecendo o vento, o nada, coelhinho da páscoa, papai Noel. Hiperativos, super independentes, inteligentes e descolados, nessa modernidade que hasteia a bandeira da individualidade e do egoísmo – a mesma que segue semeando infelicidade.

Não, nós não queremos ser adolescentes. Queremos ser adultos e felizes, tudo bem? Queremos amar e ao longo do dia, ter o prazer de presenciar mais gestos de amor. Queremos uniões mais fortes, relações mais saudáveis, sinceras e fiéis. Queremos um mundo mais gentil e honesto. Queremos leveza, sintonia, cumplicidade e parceria. Queremos menos emails, menos mensagens e mais abraços apertados e mais, muito mais beijos na boca. Queremos enfim, escrever um texto assim e não pensar que estamos loucos nem que estamos pedindo muito. Queremos amar porque o amor é a nossa bandeira. Porque pra gente, o amor é básico.
Fiquem bem.
Beijos,
Deco.

3 comentários:

  1. Concordo em tudo com vc. Esse sistema do mundo me da medo. Não sei onde isso tudo vai parar. Da pra seguir desacreditado nas pessoas, mas prefiro seguir acreditando. Prefiro acreditar q alguém em algum lugar pensa como eu, q alguém quer muito mais q uma noite d sarro numa boate da vida.

    Abraço!

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  2. Li tudo ontem mas não consegui comentar.

    Já li vários textos por aqui e sempre gostei muito. Mas esse...senti cada palavra e até chorei.
    A gente era feliz e não sabia!


    Um abraço Deco!

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  3. Acho que vou arriscar correr o risco de me tornar repetitiva ao dizer que você é uma pessoa que admiro demais. Principalmente por não ter o menor receio de dizer o que pensa e o melhor, pela coerência de vida que busca sempre conseguir...È uma pessoa com visão, com sentimentos, sem nunca ter medo de voar...Mais uma vez bato palmas de pé! Beijos

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