segunda-feira, fevereiro 02, 2009

:::::::::::::::::::::::::: QUASE ::::::::::::::::::::::::::

por Sarah Westphal

Ainda pior que a convicção do “Não” e a incerteza do “Talvez”, é a desilusão de um Quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto! A resposta eu sei decór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance. Para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente a paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance!

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando; porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

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Ouvi esse texto ontem de uma pessoa muito especial e fiquei refletindo sobre o quanto ele é profundo e igualmente real. Sobre o quanto ele tem a ver com a nossa vida e com nossos cotidianos urgentes, loucos, totalmente alucinados.

Esse texto não apenas mais um texto genial que alguém teve o dom, a maestria de escrever com abundante sensibilidade. Não é meramente algo que você lê e que te pausa, e que te congela por alguns instantes como que propondo um pensar contínuo... Não. Para mim, ele vai se tornar uma espécie de oração. Algo que será lido todos os dias, todas as manhãs. Para que eu me lembre a cada dia desse ano novo e limpo, o quanto o quase é algo dispensável em nossas vidas. O quanto estamos certos quando pensamos que o mundo está carente de seres com atitudes e caras expostas. Para que eu me cerque de sensações e atitudes mais concretas e definidas. Para que eu tenha comigo a certeza desmedida de que quem quase é, não é. E que quem não é não vale o tempo, o olhar demorado, o beijo, o amor.

Fiquem bem e se cuidem.
Beijos,
Deco.

8 comentários:

  1. Palavras profundas, que pedem sensibilidade para serem compreendidas e assimiladas, além de desejos, sentimentos e ocasiões tão inefáveis quanto imperdíveis, a gente divide com quem sabe, bem lá no fundo, que a identificação é de alma, acima de quaisquer outras.

    Beijo com um carinho que transborda!

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  2. Deco,
    Nada nessa vida com um "quase" eh completa. Acredito que nos apoiamos nesse "quase" eh uma tremenda carencia.
    Entre o "quase" e o "nada", eh preferivel o nada.
    Com o tempo comecamos a nos tornar mais exigente com a qualidade do tempo que gastamos, seja ele para dar um passeio a pe, ler um livro, ou entrarmos num relacionamento.
    Ha um tempo em que parece que sentimos uma especie de "prazer interno" de mendigar carinho, e sofrer, como se isso fizesse parte do amor.
    Nao faz.
    "de nada adianta cercar um coracao vazio ou economizar a alma".
    Essa frase valeu por todo o contexto.
    Beijos
    MARY

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  3. Sei bem o que é um "quase". Vivo um quase agora, e prefiro o sim...
    PErfeito.

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  4. Deco, vc está mudando mesmo...
    Li há alguns dias esse texto, tbm gosto dele. Por sinal, acho que viver intensamente é essencial. Gosto de saber que já senti a presença do amor, do prazer enlouquecedor, que sei o que é andar nas nuvens e tbm o que é cair em queda livre, sofrer, sentir vontade de sumir... Viver é isso: envolver-se com a vida.
    É claro que as vezes precisamos parar, acomodar,evitar muitas emoções e recuperar as forças. Nesses momentos o céu fica meio cinza, as luzes já não brilham com tanta intensidade, mas vamos nos assumindo mais experientes e preparados para novas investidas...

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  5. Concordo com a Mariana!
    Acho que o "cinza" faz parte! E Discordo que amor enlouquece, amor dá paz, acalma, é porto seguro. Diferiu disso, acredite! Não é amor.
    Meus desejos tbm JAMAIS me traíram, me decepcionaram talvez! Me levaram pro "cinza" e me fizeram CRESCER!! Sem "Cinzas" desconheço quem vire gente grande. E é isso! UMA SALVA PARA OS MOMENTOS CINZAS!!
    Querer sempre o sim me soa infantil. Não costumo valorizar como se deve quem só fala SIM pra mim. O "Não", o "talvez", o "quase" às vezes têm seu charme.
    E é isso Dekito. Prefiro a intensidade dos seus.
    Bjs

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  6. É um ótimo texto Deco!



    Um abraço!

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  7. Seja escrevendo um texto que muito me agrada ou seja lendo-o e partilhando-o, você me dá a oportunidade de sempre sair daqui com ótimas reflexões, Deco!

    Beijo :)

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